O Dia que Uniu Bruxas e Cristãos


Para Ler Ouvindo: Nailed (Theocracy), Forget Your Hexagram (Larry Norman), Altar do the Unknown God (Theocracy), Nisto Cremos (Alessandra Samadello), Brother Moon (Gungor)

31 de Outubro.
Halloween. Véspera de Todos os Santos. Dia das Bruxas.

Hoje é o dia em que as crianças americanas (e nos países Nórdicos) saem na rua, todas fantasiadas e pedem doces com seu bordão “trick or treat” (doces ou travessuras). Aqui no Brasil, a tradição não tem muito significado, mas é tema de festas e os especiais de séries, filmes e desenhos norte americanos invadem a televisão.

Como se diz que hoje é dia das bruxas, lembrei-me de toda a relação de aversão que existe entre bruxaria e cristianismo. Eu vou mais além, não só bruxaria, como também religiões pagãs e também africanas.
A Bíblia usa palavras claras como feitiçaria, adivinhação, mágica e necromancia (que no vocabulário bíblico inclui mediunidade) para descrever algumas coisas que Deus não aprova.
Infelizmente, a clareza com que Deus diz as coisas acabou sendo levada a extremos humanos pelas instituições religiosas.

Na Idade Média, a Santa Inquisição cuidou de queimar todo mundo que fosse SUSPEITO de praticar magia e isso ecoou por processos que tem seus resquícios até hoje, provocando conflitos pós-modernos entre o cristianismo e qualquer outra religião que não seja baseada na Bíblia.

O cristianismo como um todo costuma ser acusado de ser intolerante às outras religiões, prepotente, arrogante, fundamentalista e, devido ao que ocorreu na Idade Média e seus resquícios, violento.
Acontece que existe também o outro lado.

31 de Outubro é também o dia da Reforma Protestante.
O dia em que Lutero pregou nas portas suas 95 teses de justificação pela fé.
É extremamente irônico que o Halloween, com sua origem nos cultos pagãos de celebração da “festa dos mortos”, passagem de ano, Samhein, também se emenda na comemoração católica do Dia de Todos os Santos (Mártires) – reflexo da festa dos mortos, e ainda o dia da Reforma Protestante.
Três linhas de raciocínio completamente diferentes uma da outra, mas ainda assim intimamente ligadas de alguma forma, que acabaram se rivalizando historicamente, com registros de violência e que se chocam em um dia do ano.
É irônico relembrar isso nos dias de hoje, pois muitos acusam o cristianismo de perseguir outras religiões, mas a Reforma Protestante nos lembra que não eram apenas os pagãos que eram perseguidos pela Igreja medieval.
Milhares de cristãos que tiveram acesso às verdades bíblicas, inclusive componentes do clero, foram perseguidos e mortos pela instituição, que fez de tudo para que o conhecimento não chegasse às pessoas e elas pudessem questionar as tradições.
Não só bruxas, mas cristãos e também bíblias já foram para fogueiras em diversas épocas. Atrocidades que Cristo abomina, foram cometidas supostamente em nome dEle para defender o que DIZIAM ser sua verdade.
Até que um dia, consumando o que muitos haviam tentado em vão fazer anteriormente, mais uma vez na história do cristianismo, os pregos cravam na madeira... Dessa vez para resgatar o significado do que a primeira vez representou.

Liberdade.

A Reforma Protestante foi uma das coisas que permitiram que o próprio protestantismo fosse questionado mais tarde pelos que o criticam.

“Mas não é verdade?” Você pode argumentar “Que vocês condenam qualquer prática religiosa e ritualística diferente da de vocês?”
A realidade é que, assim como a história do cristianismo é apenas parcialmente conhecida (e deliberadamente ignorada pelas pessoas), muitas das suas bases também são conhecidas superficialmente, provocando equívocos por parte de cristãos e não cristãos.

Nós acreditamos que a Verdade é uma pessoa, portanto absoluta, que deixou um guia sobre si para que pudéssemos conhecê-lo.
Ele, que é Espírito, se mostrou através de simbolismos e rituais, que envolviam sacrifícios, e por fim, se mostrou plenamente ao tornar-se Carne e habitar entre nós, culminando no sacrifício definitivo, que pela fé aceitamos, e através dessa fé e aceitação, nós respiramos.

Acontece que o que a Bíblia condena as religiões, não para se mostrar como uma religião suprema, que tem o ritual melhor ou a supremacia dentre todos. Ao contrário: a Bíblia apresenta um cânone judaico-cristão que abomina a religião institucionalista e separatista que conhecemos e herdamos da Idade Média, assim como abomina os rituais que são o fim em si mesmo e não meios para um fim.

Apesar de várias coisas em comum com várias outras religiões, o cristianismo se destaca na diferença de significação: Os rituais judaico-cristãos ativos ou inativos, todos são simbolismos feitos para que Deus, por misericórdia, chegasse ao homem e o trouxesse pra perto e não o contrário, a natureza EXALTA a Deus como Criador, não o incorpora. Deus habita em nós através do fôlego, da mente aberta a Ele e do Espírito Santo, mas isso não nos torna parte da divindade, e sim uma criação dependente desta. As Leis de Deus não servem para mudar nossos comportamentos e sim para resgatar a essência de quem fomos criados pra ser.
Todo ritual e simbolismo cristão tem um significado que nos leva a uma única verdade: Existe apenas UM Deus, Criador, Mantenedor e Salvador, e só Ele é digno de nossa adoração e dedicação incondicional. Ainda assim, Único e Supremo, não nos obriga a subir uma escada com degraus maiores que nós para chegarmos a ele, ao invés disso, desce a escada para subir conosco no colo.

Por muito tempo ofereceu-se ofertas, holocaustos e sacrifícios a Deus, mas ao contrário de muitos outros deuses que tinham sua ira aplacada pelos sacrifícios, na tradição bíblica, os sacrifícios oferecidos ao Deus EU SOU representavam o sacrifício que ELE faria para aplacar e curar a doença que afligia a humanidade.
E quando nos proíbe de adorar qualquer coisa que não seja Ele, ou seguir qualquer regra que não seja a dEle, Cristo está dizendo: “Eu os criei, eu os criei com um propósito que é perdido quando vocês desviam dele, qualquer coisa que não for eu e for objeto de culto, não te trará a vida, apenas a morte, não te trará paz e sim uma sensação passageira de conforto, então não atribua à criação – seja esta um ser humano, ou a Mãe Natureza – os méritos que apenas o Criador tem.


A salvação apresentada por Cristo não está nos nossos méritos adquiridos no caminho de passagem dessa vida para a próxima em Avalon, após a morte. A salvação está nos méritos do Caminho (Cristo) que trilhou a morte para que esta não fosse o fim dos nossos sofrimentos, e chegássemos com vida – corpo e alma – à Nova Jerusalém.  
E é essa graça que somente alcançamos através da FÉ, que nós cristãos relembramos todos os dias da vida, e também em 31 de Outubro, quando, em 1517, Lutero foi usado por Deus para nos lembrar que somos livres da escravidão da morte.

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