Abençoados sejam os Assassinos

Pra ler ouvindo: “Losing” (Tenth Avenue North), “A Voz” (Os Arrais feat. Daniela Araújo), “Isso é Amor” (Vocal Livre),  “Glass Houses” (The Classic Crime), “Long Road to Forgiveness” (Melissa Greene).

Uma das coisas que sempre perturbam as pessoas na mensagem central de Cristo era a sua insistência nessa história de amar – falei superficialmente sobre isso na postagem sobre os princípios subversivos e politicamente incorretos do cristianismo. Amar, ok... Mas ele ia mais além:

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo (seu complemento não escrito, como diz a versão A Mensagem).

Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;

Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.

Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?

Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.”

Mateus 5:43-48

Antes disso, ele ainda tinha vindo com aquele papo nada popular de oferecer a outra face.
Quando eu coloquei título nesse texto eu não estava dizendo que os assassinos são abençoados por que são assassinos, como muitos podem ter pensado.
Mas é inegável que eles são abençoados por Deus de alguma forma, mesmo não estando de acordo com a vontade de Deus pra vida deles. É o que chamamos graça comum, e é sobre o que Jesus estava falando: Deus manda o sol e a chuva para maus e bons, justos e injustos. E é interessante observar que a graça comum tem um antagonista, que é a distorção da natureza como consequência do pecado: a chuva e o Sol no mundo imperfeito, doente pelo pecado também causam mal, tanto a justos quanto a injustos.

Mas a principal questão do discurso é: Se Deus, que MORREU por todos, oferecendo a todos nós oportunidade de salvação (a graça especial), e ainda insiste com TODOS, mandando mensagens diárias e personalizadas sobre esse amor, deixa disponível a graça comum a todos, e mesmo que desaprove as atitudes e modo de vida de alguns, AMA, perdoa e abençoa, QUEM RAIOS SOMOS NÓS pra negarmos essas coisas a quem quer que seja?

O apelo final dessa parte do sermão é justamente “Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.”
O maior engano no qual podemos cair é o de pensar que só podemos ser perfeitos no céu por conta da nossa natureza humana.
Nós fomos criados com a natureza humana! Fomos feitos para sermos humanos, humanos perfeitos, criados à imagem e semelhança de Deus. O pecado não é uma “natureza” e sim uma anomalia da natureza. Felizmente nascemos perdoados, nascemos salvos.
Mas é escolha SUA se apegar à essência da sua humanidade. Você foi criado pra ser e pra ter amor. E amor presume perdão.

As pessoas gostam de falar de amor, mas não gostam do perdão pleno.
Por que quando param pra pensar no que Jesus disse, eles começam a perceber que lá no fim das contas Jesus aplicou o que havia ensinado, e depois de ser torturado e pregado na cruz, sendo alvo de escárnio e palavras cruéis, em meio à dor ele diz: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem”(Lucas 23:34).
Você tem noção do que foi isso?

Você tem noção de que isso implica que, quando ele falava de “amar os inimigos” ele não ta falando da ex-namorada do seu atual, ou do carinha que quer pegar seu lugar na empresa?
Ele está falando da pessoa que abusou de você quando você era criança, ele está falando do cara que matou seu filho a sangue frio, da pessoa que te deu uma surra só por que você é negro ou homossexual, da pessoa que te traiu e contou seu segredo pra todo mundo, da pessoa que bateu em você.
Deus está te pedindo pra AMAR essa pessoa e perdoá-la.
“NUNCA! ISSO É UM ABSURDO!” você pode me responder “ISSO É UMA LOUCURA!”
EXATAMENTE. É uma loucura. E o que a Bíblia diz que é a mensagem da cruz? Loucura para os que se perdem! (I Coríntios 1)

A mensagem da cruz implica um Deus que amou tanto o mundo, que permitiu que seu filho morresse pelas mãos da humanidade, para que essa humanidade pudesse entender novamente o propósito para o qual foi criada.  Para que a humanidade pudesse entender novamente o que é o amor e aprender a amar e ser amada.
Pois acredite que receber amor é muito mais difícil do que se imagina, assim como retribuir e distribuir esse amor é ainda mais difícil.
Quando você se permite dizer e sentir aquela máxima de que “Esse pedófilo/assassino/racista tem que ser torturado até morrer” você está dando espaço a si mesmo para fazer com outras pessoas o que esse cara fez. É como aquela propaganda (que na verdade era um trabalho universitário) que rodou a internet essa semana e que mostrava um carro matando Hitler quando criança e terminava com a seguinte frase: “Identificando o perigo antes que esse chegue a você”.

Abrir mão do orgulho, da mágoa, do ódio, do rancor e mesmo da militância contra pessoas (milite contra idéias, não contra as pessoas que as propagam), implica você abraçar a essência da sua humanidade, do que você realmente é, do que você foi criado pra ser: Amor.
Já disse isso aqui e repito: Dos seus dois atributos principais – Amor e Justiça – Deus pediu pra que deixássemos a justiça nas mãos dele e nos apropriássemos apenas do amor, pois o amor nos levará a enxergar as coisas como elas realmente são, com os olhos de Deus. Mas com nossa capacidade ainda limitada, podemos nos restringir ao amor, pois mesmo amando, só Deus enxerga TUDO com clareza e só Ele pode proferir julgamentos.
Por isso quando tentamos proferir julgamentos, nos tornamos injustos, mesmo com quem sabemos estar fora dos limites de Deus.

Quando digo “Abençoados sejam os Assassinos”, estou dizendo pra que você saiba perdoar, não para que ELES sejam absolvidos (Deus se encarrega das consequências), mas para que VOCÊ seja um ser humano verdadeiro, cheio de humanidade, amor e genuína ausência de preconceito.

Criado à imagem e semelhança de Deus.