Lavem suas Bandeiras, elas estão sujas!

Imagem meramente ilustrativa.

Na última semana eu postei uma espécie de parábola por aqui chamada "O Boticário, A Feira e A Igreja" (clique aqui pra ler). E postei uma parábola por que gostaria que as pessoas lessem e entendessem sobre o que eu gostaria de dizer. Acho que muitos entenderam.
Outros não leram.
A última semana foi um turbilhão de acontecimentos que geraram discussões que - pra variar - colocaram a internet em polvorosa. 
O clima já estava exaltado com toda a questão da propaganda do Boticário, e as coisas se acenderam mais ainda depois da Parada LGBT deste final de semana (07/06/2015). 
Um grupo de cristãos de várias denominações, num gesto inesperado, apareceu na Parada com cartazes que traziam mensagens como: "Jesus cura a Homofobia", "O Amor é a Lei", "Pra Jesus Todas são Migas".
Algumas das fantasias e cartazes da Parada provocaram reações entre cristãos, com destaque para a imagem de uma transexual crucificada à la imagem de Cristo e uma placa "Abaixo à Homofobia LGBT".
E a guerra parece ter sido consolidada. 
De um lado, a bandeira colorida protestando contra o preconceito e pedindo espaço. De outro lado, a bandeira protestante, clamando-se como vítima de preconceito e respondendo à altura a provocação.
Copiando descaradamente o meu próprio texto, "Os dois grupos se julgam certos", mas ambos lutam do jeito errado, e arrisco a dizer, pela causa errada.

Gostaria de, antes de continuar, deixar clara a minha intenção ao escrever esse texto: eu procuro ser sutil em tudo o que escrevo, por mais que as vezes não pareça, justamente por que existem leitores do blog que pensam de maneiras opostas. Mas é bem claro o meu posicionamento: Sou cristão protestante, tenho a Bíblia - com seu cânon de 66 livros - como regra de fé e prática, tenho o Jesus Cristo bíblico como Salvador pessoal e creio nEle quando diz que ELE é a Verdade, acredito na sua morte na cruz, na sua ressurreição E segundo advento, vindo à Terra para purificá-la e restaurar nela a teocracia original, ou seja o governo absoluto de Deus sobre o Universo, acredito em sua graça salvadora como único meio pelo qual somos salvos, assim como creio que guardar os seus mandamentos e cumprir os princípios e normas bíblicas que possuem validade perpétua são consequência clara e evidente da aceitação dessa graça.
Já falei aqui sobre o tema que vou falar, principalmente no texto "O 'Homofóbico' que Morreu em Favor dos Homossexuais". Leia também o último texto postado, "Só tem um probleminha com o Amor...", eles talvez abram caminho para o que eu vou falar agora. Mais uma vez, lembrando, assim como o texto citado acima, este texto não é exatamente sobre a homossexualidade em si. Embora eu inevitavelmente vá tocar no assunto de forma indireta, o tema é a questão dos conflitos gerados por debates em relação à homofobia e cristianismo. Se quiser entender mais sobre meu ponto de vista, passeie pelo blog e procure textos relacionados. Não interprete textos fora dos seus contextos, sem levar em consideração o ponto de vista geral dos autores. No mais, tudo o que vou dizer aqui, já disse - claramente ou de forma mais contida - em outros textos, então peço desculpas aos leitores assíduos, caso achem o texto um pouco repetitivo em relação aos outros.
Dito isso, prossigo.

Lembro-me de ficar chocado ao estudar um pouco mais sobre o contexto em que Jesus viveu e pregou. O motivo do choque foi perceber que, por mais que os simpatizantes da esquerda gostem de falar sobre o Jesus revolucionário e engajado em causas sociais e os simpatizantes de direita gostem de destacar o Jesus que seguia à risca o que aprendeu nas Escrituras, ele na verdade pregava o Reino de Deus. E o Reino de Deus vem para todos.
Deus é o único que reconhece a igualdade e diversidade absoluta contida no âmago da humanidade. Por isso o seu Reino vem para todos, mas vem individualmente.

Jesus nasceu no contexto dos oprimidos, e falava para um povo oprimido. E o opressor neste caso não era qualquer opressor, era o Império Romano. E Jesus nasceu no meio do único povo oprimido que não deixou que os aspectos religiosos da cultura romana se misturasse aos deles, o que acabava suscitando um relacionamento delicado do povo judeu com o Império, além de suscitar grupos que eram a favor de uma revolução.
A esperança do povo na figura de Jesus é que ele fosse o libertador. Eles esperavam um Messias que os libertasse do domínio romano. Acontece que Jesus estava preocupado com outras coisas, maiores e mais profundas, porém invisíveis. 
A mensagem de Jesus não era uma revolução social. Era uma revolução pessoal.

As pessoas não entendem que, quando Jesus repreendia escribas e fariseus, ele não estava com intenção nenhuma de "sambar na cara" de ninguém, muito menos de mandar um "turn down for what". Toda e qualquer repreensão vinda dele era permeada pelo amor e compaixão que tinha pelas pobres almas que achavam que poderiam ser justificadas pelas próprias obras.
As pessoas hoje criticam os fariseus como se eles fossem o pior que há na humanidade, mas não percebem que, nas palavras do pr. Amin Rodor, "fariseu não é o pior que podemos ser, mas o melhor que conseguimos ser sem Deus".
E nisso está o cerne de toda essa discussão.

Estamos falando de uma guerra onde a comunidade LGBT luta ferrenhamente para ter o seu espaço na sociedade, enquanto a comunidade que leva o nome de cristã, luta ferrenhamente para não perder o espaço que tem. E nenhum dos dois grupos percebe que não vai haver melhorias para nenhum dos lados da moeda enquanto não reconhecerem o quão pecadores são.

Vivemos no mundo onde o que dita nossas escolhas é o nosso coração, porém a Bíblia deixa bem claro que o nosso coração é enganoso - não dá pra confiar nos nossos instintos e sentimentos por que eles são afetados pelo pecado.
A humanidade em essência nasce errada, carregando consigo a herança do pecado de Adão e Eva.
Não são só homossexuais. Todo mundo nasce errado, com os sentimentos errados, com tendências erradas e cresce numa sociedade que ensina coisas erradas.
Todos precisam deixar de ser quem são. A Bíblia sempre diz claramente que é um processo de morte de quem nós somos.
E ninguém gosta muito dessa parte, por que quando paramos para pensar nisso, não sobra nenhum orgulho para se ter, seja orgulho de ser gay ou orgulho de ser a família tradicional brasileira. Não há espaço para nenhum orgulho quando olhamos para a pessoa de Cristo e percebemos que ele era o único nascido depois do pecado que tinha direito a ter seu espaço e a sua vida, e em nenhum momento lutou por isso. Sua luta foi para se manter puro e imaculado até sua morte, para que todo o resto de nós pudesse um dia ser feliz com quem somos. 

Seu sacrifício foi grande demais, o preço pago foi caro demais, para que desperdiçássemos tempo usando a imagem dele para conquistarmos o nosso "reino" terrestre e usando seu nome para tentar parecer justo perante uma comunidade de pessoas que só precisa ser amada e respeitada.
Por isso imagino a tristeza que ele deve sentir quando olha para nós e vê milhões e milhões de pessoas que lutam e lutam para ser livres, sem saber que elas já são livres. Pessoas que tentam provocar a sociedade com protestos espertos, porém pouco proveitosos, por que não percebem que o melhor protesto é o protesto como o de Cristo: o protesto baseado no amor que transforma e na Verdade que liberta. Milhões de homossexuais que precisam aprender como protestar com amor, mas como podem fazer isso, já que tudo o que recebem é ódio?
E recebem ódio daqueles que deveriam mostrar a eles que o verdadeiro amor se define através do sacrifício de Cristo, e que este sacrifício foi feito por eles e é o ÚNICO que pode dar a eles a verdadeira noção do que é amor, do que é ser aceito.
Imagino Cristo olhando para os professos cristãos que distribuem esse ódio velado com o mesmo amor urgente que usava para repreender os fariseus. Sim, amor!

De um lado, alguns podem pensar que Deus olha com nojo para a parcela LGBT da humanidade, por outro lado, outros podem pensar que Deus olha com ódio e revolta para a parcela cristã da humanidade que não consegue viver o que prega. Os dois lados estão errados, pois Deus olha com amor para todos. TODOS.
Oprimido e opressor. Quem lê textos como "Vinde a mim vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei" e outros que dizem "É mais fácil um camelo entrar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus", deve pensar que Deus tem uma simpatia especial pelos oprimidos. E tem! O negócio é que diante da graça todos, absolutamente todos, nascem e crescem oprimidos pelo pecado. E esse pecado que oprime a humanidade, faz de todos nós opressores uns dos outros de alguma forma.

Todos pecaram e carecem da glória de Deus.
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Todos. O mundo inteiro.
Cada ser humano é alvo direto do amor infinito e incondicional de Deus.
Haverá julgamento no fim dos tempos? SIM!
Existem normas e princípios bíblicos que devem ser cumpridos por todos? SIM!
A justiça de Deus vai pesar sobre aqueles que transgredirem sua Lei e seus preceitos? SIM!
Mas desses dois atributos de Deus - Amor e Justiça - ele só deixou UM para que nós exercêssemos. 
O mandamento é amar e não julgar.

Então ao mesmo tempo que posso ler na Bíblia que homossexualidade é pecado, não tenho direito nenhum de julgar quem é quem nessa. Afinal, matar é pecado (e matar com palavras também é pecado, é só ler o sermão do monte), adulterar é pecado (e adulterar inclui a promiscuidade, o sexo sem limites e os pensamentos impuros - leia o sermão do monte), cobiçar é pecado, proferir falso testemunho é pecado, roubar é pecado, desonrar o pai e a mãe é pecado, transgredir o sétimo dia de descanso é pecado, carregar o nome de Deus em vão é pecado, adorar qualquer coisa que não seja Deus é pecado.
Se afastar de Deus e declarar que é independente e não precisa de Deus para sobreviver é pecado.

Todos pecamos. 
Por isso quando escrevo no título do texto que as bandeiras que levantamos estão sujas, é por que elas estão sujas pelo desejo egoísta de conquistar o próprio espaço, coloridas com a vontade de declarar independência de Deus, cobertas com a mácula da auto justificação, manchadas pelo pecado que todos carregamos a não ser que aceitemos a graça de Deus.
Alguns estão levantando bandeiras com as cores do arco-íris, outros levantam bandeiras sujas de sangue.
Tudo o que eu como humano gostaria de ver era que todas as bandeiras levantadas fossem brancas, fossem símbolo de trégua numa guerra que é travada entre pessoas que precisam urgentemente entender que amor não se trata de sentimento, mas de mandamento. Deus manda que amemos uns aos outros, e isso inclui o opressor amar seu oprimido e o oprimido amar seu opressor.

Mas Deus, como Pai e Salvador, deseja que todas as bandeiras sejam lançadas ao chão e se levante o estandarte da Verdade. Jesus não foi levantado no madeiro e morto para que levantássemos bandeiras em lutas sociais.
Ele morreu para que entendêssemos que o preço do pecado é alto demais para que pudéssemos pagar sozinhos. Ele ressuscitou para que entendêssemos que só ele é capaz de vencer o pecado, a morte, a violência, o preconceito, a homofobia, a intolerância religiosa.
Somente ele é capaz de entrar dentro do coração de cada ser humano e fazer uma revolução tão bem sucedida que transforme criaturas desprezíveis em vasos de barro que guardam tesouros.

Talvez você esteja lendo esse texto e não creia que a solução possa vir de um ícone religioso, afinal, talvez você seja um ferrenho defensor do estado laico (e acredite, esse é um conceito defendido pela proposta inicial da Reforma Protestante e defendido também por comunidades cristãs modernas que creem no livre arbítrio e prezam pela liberdade religiosa). Talvez você esteja lendo o texto e sequer acredite que a religião do Cristo apresentado na Bíblia possa ser tão boa assim a ponto de transformar intolerantes e mesmo assassinos em pessoas amorosas.
Talvez você até esteja rindo da "ingenuidade" do cristão que prega coisas pouco lógicas e pouco científicas. Talvez você nem acredite em Deus.
Mas gostaria que, caso esteja entre estes, você entendesse que o cristianismo bíblico exige entrega racional, exige muito estudo da Palavra, muito conhecimento sobre o que se lê, exige paciência, perseverança, exige esperança, e exige também que os cristãos preguem a Palavra a TODO o mundo - alguns confundem pregar a Palavra com definir o que as pessoas podem ou não fazer e como elas devem se comportar, estes não entenderam a essência da pregação do Evangelho.

E a essência da pregação do Evangelho se concentra em entender que um dia a humanidade foi contaminada e se afastou tanto de Deus, que teria se tornado inalcançável caso Ele não tivesse descido até nós, se tornado um de nós e sofrido tudo o que nós sofremos para que um dia pudéssemos confiar nele o suficiente para entregarmos nossa vida nas suas mãos de forma ilimitada e incondicional.
No dia que entendermos isso, vamos parar de lutar pelas minorias, pelas classes sociais, pelas religiões, e vamos começar a lutar pelas pessoas, pois cada uma delas precisa saber que Jesus Cristo é a melhor e mais pura bandeira que podemos levantar sem medo, sem restrições e sem demagogia.
Parem de lutar, aceitem que são amados por Deus e comecem a amar as pessoas - ame quem odeia você, ame quem você costuma odiar, ame quem você acha que não vai pro céu, ame quem você inevitavelmente julga por alguma atitude errada, ame, ame e ame. Quando você aprender a amar, vai aprender que a gente deve respeito mesmo quando não é respeitado, vai aprender que nós cristãos não temos que tentar mudar ninguém, nem transformar a vida de ninguém - esse papel é de Deus, e além de tudo isso, não vai ter tempo de se preocupar tanto consigo mesmo a ponto de querer lutar por si, e vai passar a lutar para que outros também amem. 
Afinal, essa é a luta que importa.

PS.: Por favor, se você é cristão, clique aqui e leia - na legenda da foto - essas 10 dicas incríveis para evitar a guerra entre cristãos e LGBT.

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