Trilogia de Tudo - 1: A Morte



Esta é a Trilogia de Tudo.
Ela fala sobre o que a Páscoa significa para todas as coisas.
A história da Páscoa é mais antiga do que coelhos e ovos, mais antiga do que chocolate.
É mais antiga até do que a Ressurreição de Cristo.
A história da páscoa começa junto com a história da morte...


A Morte era uma estranha desconhecida.
Não nascida.
Éramos todos imortais, mas ouvimos falar da Morte pela primeira vez quando certo querubim resolveu desafiar a Vida.
A consequência de desafiá-la era clara: MORTE!
Tal coisa foi descrita como algo terrível, mas não sabíamos no que isso implicaria, o que isso significava realmente. Será que ele mudaria de ideia se tivesse visto antes?
O fato é que a Vida não matou o querubim rebelde. Caso tivesse feito isso, acharíamos que o rebelde estava certo, afinal, não sabíamos o que a ausência da Vida em tudo significava.
Não entendíamos a Morte.

O irônico de tudo é que a Morte começou com uma saborosa mordida numa fruta bonita.
O Fruto do Conhecimento do Bem e do Mal. O Fruto da Independência.
Uma mordida apenas dizia: "Eu não preciso da Vida".
O querubim rebelde se tornou uma Serpente, que na sua esperteza contrariou a Vida e disse para A Primeira Mulher:
-É claro que você não vai morrer se comer o fruto! Você não precisa da Vida pra não morrer, afinal você vai conhecer todos os segredos do bem e do mal! Vai ser sua própria vida!
Mas a primeira coisa que A Primeira Mulher e O Primeiro Homem perceberam ao morder o Fruto foi que haviam perdido sua Eternidade. Eles sentiram vergonha. Haviam perdido suas vestes de Vida, sentiram-se nus.
Mas a Vida encontrou-os encolhidos e porcamente encobertos com folhas de figueira.
A Vida explicou:
-Vocês agora estão caminhando para a morte. Mas quero revesti-los de vida novamente. Preciso que entendam o que é a Morte.
Então ocorreu a primeira.
Um cordeiro, imaculado, inculpável, morto no lugar da sentença de Adão e Eva.
Sua pele retirada para se tornar o símbolo das vestes de vida e cobrir a nudez do Primeiro Casal.
Aquela foi a coisa mais horrível que o Universo viu.
A respiração interrompida. O fôlego arrancado do corpo. A beleza pura engolida pelo sangue, feito para permanecer correndo escondido nas veias, agora exposto ao Universo.
E ainda assim era o símbolo da Vida para a humanidade.
Estava estabelecida a sentença: O salário do pecado é a morte.
Estava estabelecida a solução: Mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna.
Estava estabelecida a profecia: A Serpente morderia o calcanhar da Mulher, mas a Descendência desta esmagaria-lhe a cabeça.

Anos depois, a partir de um homem conhecido como Pai da Fé, a Vida escolheu sua Descendência para mostrar ao mundo que existia a possibilidade de vencer a Morte.

A Descendência esteve escrava do Opressor por quatrocentos anos, quando a Vida finalmente achou por bem libertá-la.
O Opressor desafiara Deus, que precisava aplicar seu juízo.
A Descendência praticamente esquecera-se para que servia a Morte do Cordeiro, seu sangue, sua carne e suas vestes.
Até que o sangue do mais puro e inocente cordeiro, pintado em suas portas fez com que a Morte passasse direto das suas casas. Alimentados da carne e do Pão sem Fermento - o Pão da Vida sem pecado, a Descendência partiu para a liberdade.

Séculos depois, a Vida se fez carne, o Pai se tornou Descendência.
Nasceu como bebê e se tornou o Segundo Primeiro Homem.
Ele deveria passar pelas dificuldades da vida como um mortal. sem declarar sua independência da Vida.
Era o criador do trigo tornando-se Pão.
E nós estávamos lá, assistindo, quando a Vida encontrou a Morte.
Era uma sexta feira a tarde. A Vida estava moribunda, pregada num madeiro por cravos gigantescos que rasgavam sua carne.
Finalmente o Cordeiro estava cumprindo a profecia. Finalmente os milênios de sacrifícios ganhavam significado pleno: O Cordeiro sem Pecado, o Pão sem Fermento, o Vinho não Fermentado, sendo sacrificado sob a acusação que era da Descendência.
Na noite anterior, o Cordeiro apresentara-se aos seus amigos como o cumprimento da Passagem - a Páscoa. Em sinal de humildade, o Rei do Universo se despiu para lavar os pés dos seus súditos, e enxugar-lhes os pés com suas vestes.
Deu-lhes o Pão sem Fermento para comer e disse-lhes que aquele era seu corpo.
Deu-lhes o Vinho sem Fermento para beber e disse-lhes que aquele era seu sangue.
Deu-lhes a Palavra, dizendo-lhes que Ele havia de morrer.
Agora, aqueles que haviam depositado toda a sua esperança no Cordeiro, observavam sua carne dilacerada e se perguntavam: Onde está a glória? Onde está a beleza? Onde está a esperança?

Eis aqui você.
Consegue ver o Cordeiro?
Consegue ver a Esperança?
Você olha ao redor e tudo o que vê é morte.
Há belas coisas na vida, de certo. Mas como viver de forma completa se existe a saudade, se você carrega o peso de algo que muitas vezes nem sabe o que é?
Como olhar para si mesmo e saber exatamente para quê você está vivendo, se você não tem a glória que você foi criado pra ter? Como perceber beleza num corpo que envelhece e deteriora? Como não sentir vergonha de si, se estás sem as vestes da humanidade perfeita?
Como enxergar esperança nos próprios olhos vazios de perspectiva de algo além da Morte futura?

O fato é que você pode até tentar enganar a si mesmo e achar que pode lidar com a Morte de forma natural. Afinal, todos morrem, certo?
Mas no fundo você sabe que qualquer ideia confortante não te priva da tristeza, da saudade, do horror de simplesmente deixar de existir. Mesmo que você não suporte mais a vida e queira tirá-la de si, seu mais íntimo anseio é viver, viver e viver. Mas não pela metade.
Viver por completo.

Será que dá pra encontrar esperança no Cordeiro dilacerado?
Você contempla aquela figura que sempre viu em livros, filmes e gravuras e se pergunta: que diferença esse pobre homem crucificado, que nem sei se existiu, pode fazer na minha vida?

A resposta parece pronta a sair dos lábios ressecados dEle.
Você contempla o horror escarlate do Calvário, o sofrimento, a dor, a crueldade e injustiça humana.
Em todo esse horror talvez você enxerga que o Sacrifício do Cordeiro está deixando uma mensagem clara.
"Na Cruz ficou exposto a todo o Universo o pior do homem e o melhor de Deus".¹

A Serpente se encolhe diante do sacrifício voluntário da Vida.
Sua mentira foi exposta.

É com um brado débil que o ar deixa por completo os pulmões daquele que soprou a vida nos pulmões de toda a Descendência.
É com uma única frase que a Vida morre:

"Está Consumado!"


¹ . "O Pior do Homem, O Melhor de Deus", Grupo Novo Tom

Comentários

  1. Tetélestai! A eficácia da morte vicária de Cristo contida em uma pequena palavra. O sangue derramado que tira a mancha do primeiro ao último homem. Penso no quão baixo e perdido é o homem, que fez com que o Criador de tudo, do tempo e da luz, experimentasse o tormento da dor e da morte, ficando alguns dias sem saber de nada, pois estava ali, dormindo em um túmulo. O dono de cada centímetro quadrado do universo nascendo tão precariamente e morrendo em um túmulo emprestado. É impossível racionalizar tamanho amor, me constrange, chego a esconder minha face por fazer uso tão recorrente de sua graça. As vezes tento imaginar o plano de Cristo para dar atenção à cada um de nós na eternidade, pois num céu que não haverá egoísmo, em minha limitada mente, ainda não encontrei solução onde eu conseguiria ficar 1 segundo longe de Sua presença.

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    1. Eita brother! Mitou no comentário!
      Nada a acrescentar. Merece um texto!

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