[Resenha] Vocal Livre - O Primor Artístico e a Subversão Ideológica dessa "Bela História"


Quem diria que chegaria um dia em que poderiam ser consideradas “outsiders” as idéias expressas em um álbum CRISTÃO, musicalmente bem trabalhado, com linguagem "cult" e que não se encaixa em nenhum estilo relacionado a “protesto” ou “rebeldia” (rock, hip hop, etc)?


Em plena popularização e ascensão da crença geral no evolucionismo e do secularismo, o jovem “Vocal Livre” tem a ousadia de iniciar seu debut álbum cantando que “Se hoje existe vida é por que Disse Deus”. E como se não bastasse, logo após a primeira faixa – grandiosa, cheia de feeling , bem cantada e arranjada - que se chama... Bem, “Disse Deus” (rs), eles prosseguem com a criação em “Inevitável”, falando da teologia da guarda do sétimo dia da semana, o sábado, como o dia bíblico de descanso, não desafiando apenas o evolucionismo ateísta como também o evolucionismo teísta e reafirmando que não só crêem no Criacionismo pleno, como também crêem de uma forma muito bela no sábado como dia de descanso. Se você duvida, é só ouvir a música, que tem a estética impecável das trilhas sonoras orquestradas de musicais hollywoodianos.

O álbum, chamado “Bela História” prossegue numa linha de raciocínio inteligentíssima que aborda o ser humano como um ser planejado, criado, projetado e acima de tudo, amado. Obviamente, deixando bem clara também a condição atual da natureza humana pecaminosa e da dependência desses seres humanos em relação a Deus (Ops, mais subversão cultural!).
A ordem das músicas trata sequencialmente da Criação através da Palavra, da Redenção através do sacrifício e da Restauração através do retorno de Cristo para renovar a Terra e resgatar seus filhos.

Esse conceito está genialmente expresso (e impresso) no encarte, que é tão lindo que sim, vale a pena comprar o CD físico, quem tiver a oportunidade (mas os mais impacientes podem comprar no iTunes por que lá tem também, ok?).

Até pouco tempo atrás, seria impensável que um conceito baseado numa teologia que fala de criacionismo, Bíblia, redenção, amor a si mesmo e ao próximo, amor, devoção e dependência à Deus seria abordado num álbum cristão com uma veia artística refinada em pleno século XXI.
Eles falam de individualidade (“Pingo de Chuva”) sem porém defender o individualismo, falam de identidade definida pela nossa criação e recriação à imagem de Deus e não pela nossa personalidade ou opção sexual. Eles falam de sucesso alcançado através da rendição a Cristo. E falam de um amor absoluto, sem espaço para relativismos.
Esses são conceitos que se não aprofundados despertam simpatia no mundo pós moderno, mas que se estudados a fundo causam aversão e são considerados subversivos diante da sociedade pregadora da “liberdade” sem regras.

São surpreendentemente boas as composições – letra, música e arranjos – de jovens como Pedro Valença e Gabriel Iglesias (sim, o mesmo do trio Igl3sias do qual já falei aqui) e também de compositores já consagrados (Já disse por aqui que eu AMO as composições do Stênio Marcius?). Assim como duas belíssimas versões de músicas já consagradas como “Pingo de CHuva” (vulgo ‘Não há outro igual a você’) e “Feridas”.
As harmonias vocais são muito bem executadas e muitas vezes criativas, assim como temos solos e alguns duetos incrivelmente lindos e bem cantados. Competência musical e feeling são elementos presentes em 100% do álbum.

É tenso escolher as faixas preferidas ou mesmo pular uma delas se formos olhar apenas a qualidade, mas há músicas pra todos os gostos. Orquestrações lindíssimas gravadas pela Orquestra de Praga com o Lineu Soares (outro gênio), músicas com voz, violão e algumas coisas que dão um arrepio a mais (amo o jeito como “Frase Antiga” vai crescendo quase imperceptivelmente até explodir), canções que flertam com um pop rock Cult (!!)e com o indie. Temos músicas com pegada de trilha sonora, e músicas com pegada brasileira, músicas mais tranqüilas, mais eufóricas... E nenhuma delas apela para nenhum dos estilos, mantendo sempre uma suavidade que agradará a gregos e troianos.
Estou ansioso para assistir esse pessoal cantando ao vivo, e pelos vídeos que vi, não me decepcionarei, poucos grupos conseguem manter a “integridade” estética das músicas ao vivo!

São 12 faixas imperdíveis num álbum diversificado e que ao mesmo tempo mantém uma unidade conceitual cada vez mais valorizada na música cristã de qualidade.
Se você tem receio de ouvir “primeiros álbuns” de cantores e grupos, pode ir sem medo e com sede ao pote de “Bela História”, por que qualidade técnica, feeling e uma mensagem poderosa (e subversiva, rs) expressa por letras geniais não faltam aqui.

Comentários

  1. Jonathas, estou lendo a sua resenha e me arrepiando. Talvez por ter feito parte diretamente do processo de criação e nascimento do álbum Bela História, nunca tenha refletido tanto nessas questões. Ah, e para ver o Vocal Livre ao vivo, leva a gente pra BH! rsrsrs Estamos de malas prontas! Beijos

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    1. Fico feliz que o texto tenha feito você refletir a respeito, Anne! E olha, estou pensando seriamente nesse negócio de trazer o grupo mesmo hein hahaha seria épico!

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  2. Jônathas, que belas palavras! Como a Anne já comentou, talvez pelo fato de estarmos "do lado de dentro" não paramos pra pensar da forma como nos conduziu a pensar nesse texto. É muito bom sentir que quando deixamos DEUS guiar nossa vida e projetos, Ele torna as coisas belas de uma forma inexplicável! Ore sempre por nós, por nosso ministério, e que juntos possamos espalhar essa "bela história" por toda terra! Abraço

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    1. Sim! Deus tem a manha total de fazer com que a arte usada por Ele chegue de maneiras diferentes e eficientes para as pessoas. Estamos juntos nessa caminhada de espalhar a mensagem! Seja com a música ou com os blogs da vida haha!

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  3. Respostas
    1. Obrigado, Rafael! VAleu pela visita e pela leitura! Volte sempre!

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  4. Adorei a resenha e concordo plenamente! O Vocal Livre se tornou meu grupo cristão instantaneamente quando eles vieram à minha igreja aqui em Araras/SP. Com um número reduzido, os integrantes fizeram uma apresentação unplugged -- arrepiaram com a banda de violões, cajón e teclado -- e sem microfones. Isso é talento!

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    1. **meu grupo cristão/adventista FAVORITO**

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    2. AHHH eu quero assistí-los ao vivo com URGÊNCIA haha!! São muito bons mesmo, para honra e glória de DEUS!

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  5. Gostei demais da resenha.
    Só achei pena que um album com musicas tao lindas, em todos os sentidos, "tenha" que ser comparado com outras hollywoodyanas(?!), talvez, para que nós, humanos, pudéssemos perceber.
    Gostaria muito de poder assistí-los, pois, não paro de ouvi-los...

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    1. Oi, amigo! Que bom que gostou!
      Não sei se entendi bem o que quis dizer com sua ressalva, mas comparei apenas a "estética" musical de "Inevitável" com músicas de trilhas sonoras de superproduções musicais de Hollywood e isso foi um elogio, uma vez que estas são compostas por grandes músicos e executadas com esmero. Assim como a faixa "Para Sempre" possui - para usar o mesmo termo - uma estética bem brasileira.
      É claro que a vantagem da música dos nossos amigos do Vocal Livre está em que, além da estética, eles tem uma mensagem muito mais poderosa do que a que as trilhas sonoras tem para passar!

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