[Resenha] Os Arrais e "Mais" um dos seus álbuns fantásticos

Tirem o olho que esse é meu! rs

A música e a musicalidade dos irmãos Arrais me soam intimistas desde o sensível e enfático “Introdução”.  E desde tal álbum eu me delicio no som leve e firme de André e Thiago.
E aí vai mais um paradoxo: Se o segundo álbum era intimista mas declarando verdades doutrinárias (que deveriam ser) universais, “Mais”, lançado em 2013 pela Sony Music, é ainda mais intimista, só que num sentido mais amplo.
 Não, gente, eu não fumei. Não preciso disso pra viajar.


Em “Introdução”, os talentosos e – ouso dizer – geniais Arrais (ops!) falam sobre o relacionamento PESSOAL com Deus e suas verdades bíblicas, em “Mais”, eles complementam o tema, eles falam de como este MESMO relacionamento pode se estender numa atmosfera mais ampla, que inclui termos como “Esperança”, “Voz que fala aos corações”, “Reino”, “Guerra”, “Vitórias”.
Portanto a questão é: Eu tenho um relacionamento com Deus, e agora, em que isso vai influenciar na minha vida e na vida de outras pessoas que vivem no meio dessa guerra pelo Reino?

É interessantíssimo observar como eles alternam as perguntas “Quem é Deus” e “Quem sou Eu”. Não posso evitar analisar esse álbum mais pela mensagem dele do que pela musicalidade que, devo sublinhar, pesca um indie/folk nacional tão bem executado que pasma quem ouve. Já gostava da musicalidade no primeiro disco – que segue uma linha mais enfática e menos reflexiva se comparada a este – agora com a execução e mixagem aprimorada, parece ainda melhor. É incrível observar também o esmero teológico com que compõem esses irmãos. Tanto que em várias citações diretas, no encarte você tem a referência bíblica, achei muito pertinente.

O álbum já começa com uma faixa deliciosa que organiza vários nomes do Deus Filho do Homem de forma teologicamente genial. Posso ter errado as contas, posso estar equivocado e ter interpretado mal, mas acho que contei “21” – nome da canção – desses títulos.
E logo depois desse tremendo louvor que nos apresenta Deus, temos a faixa título “Mais”, dizendo de que forma o conhecimento e reconhecimento desse Deus diz quem NÓS somos e quem devemos ser.
Depois dessa entrega e dessa mudança de “ser quem sou”, temos a sequência mais genial ainda, uma faixa com a participação da Daniela Araújo, chamada “Não Fale” e pode ter o recado esdruxulamente resumido da seguinte forma: Não fale que você é de Deus, não fale que você é DESTE Deus e que o representa, se você não o conhece, se você não o conhece da forma que fomos apresentados a Ele nas duas primeiras músicas: Um Deus que se descreveu na Palavra e na palavra, e um Deus que faz de você MAIS do que você é.
E depois disso, esse Deus é apresentado novamente – mais uma vez com a Dani Araújo e, dessa vez como “A Voz”, O Desejado das Nações, genialmente colocado na posição sócio-política a qual pertence (adoro a forma como colocam-no como alguém que fala tanto de esperança quanto de juízo com propriedade). Não dá pra descrever essa musica e toda a genialidade contida nela. Você tem que ouvir. Definitivamente uma das minhas favoritas (inclusive, falando de melodia e arranjos).

“A Voz” é seguida por “Rojões”. Essa música por si só daria um texto - e na verdade foi baseada em um outro poema. Todas as nuances que ela implica são incríveis. Experimente ouvi-la dentro E fora do contexto do álbum. Isso faz diferença. “Oração” é uma das orações mais fantásticas que já ouvi, sem se prender aos jargões do que a cultura rígida cristã impõe a uma “oração poderosa”.
“17 de Janeiro” me conquistou no seu primeiro verso. Alguém que escreve a frase “Eu olhei a tristeza nos olhos e sorri” merece ser ouvido mesmo que apenas pela sua perícia poética. Mas cara, a letra é INTEIRAMENTE genial, e é uma das mais intimistas do CD. E não, eu não conseguiria colocar outro título nela.
“Herança” é melancólica e “esperançada” ao mesmo tempo, e fala na terceira pessoa sobre entrega e suas conseqüências para as outras pessoas de um modo que nunca vi antes numa música, e refletindo todo o conceito do álbum.
Inclusive o da música seguinte, “Esperança”.
“Esperança” provavelmente foi de onde saiu o conceito da capa, e faz uma belíssima rima com “Mais”, e se mostra uma grande e definitiva consequência de tudo o que ouvimos antes.
É uma música que trata esperança como uma decisão, não como um sentimento. Mais do que isso, uma decisão feita com certeza e mudanças efetivas. E mais do que isso, cria uma linha de raciocínio clara onde faz um prólogo para a última faixa.

“Saudade” é um hino tradicional. Em sua versão brasileira, fala sobre a saudade de um lugar que você nunca viu, mas pode sentir através de alguém com quem você tem um relacionamento forte, firme e fiel com alguém cujo rosto em sua mente é formado por atitudes e não por uma forma física.
Por força de conceito artístico, a música parece ter sido gravada na beira da praia e conclui o álbum de forma aconchegante, realista e dando a impressão de estávamos lá com eles, e continuamos juntos a caminhada, assoviando insistentemente a bela canção que nos lembra a verdadeira resposta às perguntas fundamentais da vida: De onde viemos? E para onde vamos?

Comentários

  1. Graça e Paz!! Eu comecei a escutar esse álbum dias atrás. Vi o perfil deles no Facebook, pesquisei por uma música e me interessei bastante, pois eu tento tocar violão/guitarra e achei os arranjos deles feras demais, baixei o álbum e comecei a ouvir e refletir. Parte instrumental é demais, afinadíssimos, suave, leves... um ponto a destacar é, que, as batidas do violão são muito semelhantes em todas as músicas (vejo isso como uma característica do som deles), qualidade de mixagem e som ótima. Vamos ao ponto que eu quero te perguntar: na música ''17 de Janeiro" (a música que eu mais gostei do arranjo do violão), numas últimas frases diz o seguinte "Só a Cruz esconderá quem você não é'', cara, eu não consigo processar/entender essa frase... Não entra na minha mente, eu não consigo entender... :( o que você entende dessa frase? Pra mim não tem nexo...

    Em paz.

    Victor

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    Respostas
    1. Victor acho que posso te ajudar, a letra é a seguinte:
      Que o caminho será escuro
      Mas que Cristo é a luz do mundo
      Deixe Ele te falar quem você é
      Que a palavra te desfaça
      Que te afogue em Sua graça
      Só a cruz esconderá quem você não é

      Na primeira parte do verso ele fala, Deixa Cristo te mostrar quem você é, isso porque a música fala de alguém que tomou decisões erradas, então achava que era alguém que não era.

      Depois ele fala da Palavra no sentindo de desfazer a pessoa, e é isso que a Bíblia faz, quando a lemos ela vai nos quebrantando e nos desfazendo para depois reconstruir.

      Por fim temos a cruz que esconde quem você não é.
      o cerne da sua questão, Cristo diz quem você é
      A Bíblia te desfaz, e a cruz esconde aquilo que você não é, ou seja, mostra quem você é!

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    2. O Mizael respondeu melhor do que eu poderia!

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