Mendigos Sentados no Trono


Você tem noção da responsabilidade que é ser chamado de Exército de Deus por alguém a quem você estendeu a mão? Principalmente quando você sabe que aquele foi um ato isolado e não é exatamente o que você faz sempre?

Esse foi o termo que a Osvalina usou para nos definir. Ela estava ao relento, numa calçada próxima à Praça da Estação em Belo Horizonte no dia 25 de Julho de 2013, sentada debaixo de algumas cobertas gastas e felpudas, esperando o sono abraçá-la. Foi quando ao sairmos da igreja, eu e uma galera fomos distribuir sopa nas ruas.
Ao entregarmos a sopa à Osvalina - uma senhora com filhas crescidas em outra cidade, sem ter pra onde ir e disposta a arranjar trabalho, grávida de gêmeos - ela pediu: “Realmente estou com fome, mas não quero só comida, quero PALAVRA.”
Ela não foi a única a quem doamos um pote de sopa, uma oração, uma palavra de conforto e um sorriso ontem. Havia o Isaías, que precisava de um chinelo, havia o Mauro, cujos documentos haviam sido roubados e o meu irmão Silas precisou doar seu casaco a ele, haviam os casais Dejair e Lucimar e também Luíz e Maria Aparecida. Os outros eu não lembro ou não sei os nomes, mas lembro das histórias. Um casal com uma garotinha de dois anos de idade, um homem embriagado mas disposto a conversar, um morador de rua que pediu gentilmente uma sopa para a mulher e acordou o amigo que dormia perto para que este também pudesse comer.
Alguns deles apenas com fome, alguns apenas ansiosos por ter alguém que lhes ouvisse, outros ainda só queriam mesmo atenção.
Pretendemos voltar hoje. O que fazer diante de tudo isso nós já sabemos. Mas o que sentir?
O meu irmão Silas, já citado acima, ontem estava especialmente inspirado e me disse a seguinte frase: “Cara, sabe o que eu percebi? Que Deus ama essas pessoas através de nós”.
Eu parei, pensei e me arrepiei diante disso.
Me arrepiei mais ainda ao pensar que na mesma situação, na mesma cena e com todos nós nos mesmos lugares em que estávamos, Deus também nos ama através daquelas pessoas.
Jesus disse que se estendêssemos a mão a qualquer desses pequeninos, era a Ele a quem estávamos estendendo a mão. Ele disse também que ao fazermos isso, estávamos sendo seus pés e mãos na Terra, seus representantes.
A profundidade disso me fez tremer.
Ao mesmo tempo em que, ao doarmos um pote de sopa ou um casaco a um morador de rua estamos sendo a imagem e representação de Deus na Terra, ao receber tal demonstração do amor de Cristo, aquelas pessoas também são imagem e representação de Deus na Terra!
Ambos os lados da moeda são cara e coroa de Cristo. Somos o seu exército ajudando a demonstrar amor, e eles são sua pintura da humildade ensinando-nos como receber o amor de Deus.
No fim das contas, somos todos iguais perante Deus por que todos nós podemos ser usados por Cristo e somos todos alvos do amor dEle para conosco.
Ao criar-nos, a imagem que Deus colocou em nós demonstrava ao mesmo tempo sua soberania como Criador e sua dedicação humilde (!) como Pai. Ao perdermos essa imagem original, Ele desceu até nós para restaurar isso – dessa vez destacando a sua dedicação humilde como Pai. E os preceitos que deixou foram para que permitíssemos o resgate dessa imagem dele em nós ao mesmo tempo que nos confere novamente o direito à sua Herança real.
O paradoxo do cristianismo vivido ao pé da letra, baseado nos princípios fundamentais do amor a Deus e ao próximo, consiste em que, ao permitir que Deus nos use somos ao mesmo tempo servos e herdeiros do seu Reino.


"Nós somos Filhos e Filhas de lares desfeitos

Reis de grande paz não podem ser comparados a nós
Por que nós somos a luz em meio a geração das trevas
E nós nunca nos curvaremos a eles!"
Brain Damage, I Am Empire (Banda e música tema da capa de álbum no início do post)

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