[Resenha] “Pode Ser” - O primeiro CD do Pedro Valença está surpreendente!



Surpreendente é a palavra correta para descrever o álbum “Pode Ser” do Pedro Valença.
Pedro já é um rosto conhecido. Ele canta no grupo Novo Tom, é diretor e membro fundador do grupo Vocal Livre (que em breve lança CD novo também. Já escrevi sobre o primeiro aqui) e o atual regente do Coral Jovem (o coral do Ensino Médio do Unasp).
Mas ele também já é conhecido por suas músicas solo. Já participou de diversos programas na TV Novo Tempo e já viajou pelo país tocando músicas suas. Por isso, não é surpresa pra ninguém que das onze faixas do álbum, apenas duas não são conhecidas pelos que já o acompanham. A surpresa fica por conta de como essas músicas são apresentadas.

E a surpresa é excelente.
O álbum abre com uma das músicas do Pedro que mais gosto (e já até cantei), “Hoje Não”.  A diferença aqui é que a música começa reconhecível com uma guitarra suave e depois se transforma em uma explosão de alegria, jovialidade e energia que capta a satisfação que envolve a mensagem de gratidão de uma forma nunca antes abordada por ele.
Acostumadas com o Pedro “voz e violão”, as pessoas vão se surpreender ao ver a variedade de estilos e instrumentos que o álbum apresenta, vocais bem explorados (tanto os vocais principais quanto os back vocals) e, principalmente, com o apuro técnico do CD, desde a inquestionável sensibilidade das composições artísticas do Pedro até a mixagem (eu não entendo tanto de mixagem, mas pelo pouco que eu sei, ela ficou realmente incrível).
Ainda assim, o Pedro garante que as músicas estão como ele as imaginou originalmente.
É interessante observar como tudo nas músicas comunica a mensagem que elas querem passar, e apesar de sermos presenteados com canções que vão desde o MPB bem feito até o pop rebuscado dentro do CD, ele mantém uma unidade estética que transforma “Pode Ser” num verdadeiro disco de música brasileira. E ao mesmo tempo em que este é inquestionavelmente um álbum do Pedro Valença, há muitas coisas nele que o afastam do que o compositor faz com o Vocal Livre.

Há pontos altos nas participações especiais no disco, como a Alice Zukowski em “Sonhador” (Sua voz já é conhecida das músicas “Muito Mais” e “Isso é Amor” do Vocal Livre), que fala sobre nossa dependência de Deus de forma bem criativa. A mãe do Pedro, a queridíssima Jô Valença, mostra seu talento na música “Teimosia” – uma bossa deliciosa de ouvir sobre o amor teimoso que as mães têm por seus filhos (e eu também senti um significado mais amplo, como se o amor de mãe fosse uma tipologia bem adequada para o amor divino, analogia feita pela Bíblia em Isaías 49:15).
A música “Onde Estão” é uma genial canção em foma de tapa de luva sobre a responsabilidade cristã de levar o Evangelho e o amor de Deus ao mundo e conta com as participações do Novo Tom e do Vocal Livre. É talvez a faixa mais incisiva e rebuscada do álbum.
Uma participação não creditada como “participação especial”, mas que vale a citação é do tenor do Vocal Livre, Esdras Gondim, que é a voz do genial back vocal na faixa “Hoje Não”, que está ainda mais contagiante do que já escutamos.

Mas nem por isso as outras músicas brilham menos. “Canção do Amigo” é uma lindíssima – e brasileiríssima - oração. Já conhecida na voz dos Arautos do Rei, o Pedro – compositor da música – dá um upgrade em “Tenho Paz”. A faixa título é uma das coisas mais lindas que ouvi do MPB nos últimos tempos e é tão forte e singela quanto sua mensagem (com direito a um acordeon DELICIOSO de ouvir). “Saudade”, talvez a música dele com a qual mais me identifico, agora no piano, ultrapassa todos os limites aceitáveis da sensibilidade.

A primeira música que ouvi do Pedro foi "Sonhador" e desde então é sempre a mesma coisa que me impressiona em suas composições: a simplicidade. Ele consegue criar frases de efeito diferentes, marcantes, profundas e criativas, sem nunca abrir mão da simplicidade e parecendo sempre completamente sincero e honesto no que diz.
Talvez justamente por isso, meu maior destaque vá para uma dupla especial de músicas: “Canção de Jó” e “Bonequinha de Pano”. Peço licença agora aos familiares e amigos da Joyce, que foi a moça que inspirou essas canções, para tocar nesse assunto de forma pessoal embora eu não estivesse envolvido pessoalmente com sua tocante história.  Sua luta contra o câncer terminou de uma forma que a maioria das pessoas talvez considere trágica (se quiser saber mais da trajetória dela, assista aqui).
Mas a forma com que Deus usou a história dela e o talento do Pedro nessas duas canções é algo que transcende o que os olhos comuns enxergam. Ambas foram feitas durante a luta da Joyce, e enquanto a “Canção de Jó” fala mais sobre ela, “Bonequinha de Pano” é a oração dos que a amam. Ambas as canções, porém, falam mais sobre o amor e a misericórdia de Deus na vida das pessoas do que sobre qualquer outra coisa.
Aqui, Pedro permite que alguns dos seus mais profundos sentimentos sejam “ouvidos”, e se permite ser a voz daqueles que viveram com a Joyce. Mas mais do que isso, essa exposição voluntária permite com que vejamos a forma como Deus agiu na vida da moça e continua agindo na vida dos seus amigos e familiares.
Por isso, quando em “Bonequinha de Pano” a voz do Pedro vai gradativamente sumindo para dar lugar a uma das mais belas orquestrações que vi numa música como essa, e você se lembra da história, o nó na garganta é inevitável. Tão inevitável quanto o “quentinho” no coração que dá ao se lembrar da esperança sobre a qual o álbum inteiro já falou com a gente.

E quando a melancolia misturada à esperança de “Bonequinha de Pano” dá lugar ao pop empolgante e esperançoso de “Despedida”, o álbum parece dizer que o Pedro está terminando de contar uma história que não acabou.
Afinal, as músicas fazem questão de ressaltar o amor e a presença constante de Deus na nossa vida, mas ainda agradecemos a Ele por dias em que o Sol se esconde e precisamos dizer "hoje eu não vou pedir", ainda existem sonhos a ser alcançados, ainda existem tempestades violentas, filhos de Deus que ainda estão com fome e sede (de comida, água e justiça), ainda existem histórias como a da Joyce, ainda corremos por abraços atrás das curvas que a vida dá, e por isso entendemos o Pedro quando ele diz que tudo bem se não tiver as mansões, tudo bem se não voarmos, "Pode ser" uma casinha velha... Desde que estejamos na certeza que não sobra nada mais pra gente sonhar.

Com essa mensagem, “Pode Ser” é um álbum que traz a jovialidade, o frescor, a originalidade, o som brasileiro, a sensibilidade e, principalmente, a honestidade cristã que o cenário da música adventista e gospel em geral precisa.

O álbum físico está à venda na Unaspstore, e o digital no iTunes e na PlayStore. Já dá pra ouvir no Spotify, Deezer, Rhapsody e Groove também..



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