O Fim do Natal


Eu nasci na véspera do Natal.
Meu nome é Jônathas justamente por isso. Vem do hebraico, e numa tradução na linguagem contemporânea seria basicamente “Presente de Deus”.
Além disso, cresci num lar cristão. Comemorei o Natal em família praticamente todos os anos do meu quase quarto de século.
Fui criado numa sociedade que torna o Natal uma data especial, seja comercial, social ou espiritualmente. O comércio se movimenta no natal, assim como as famílias, igrejas e círculos sociais.
Eu sou viciado em músicas natalinas em diversas versões e estilos.
Sempre fui muito ligado ao Natal.
Apesar disso tudo, a cada ano que passa, o Natal se torna mais comum e passageiro.
A cada ano, ele termina mais rápido e passa mais frio.

Eu poderia estabelecer aqui um diagnóstico para isso.

Alguns pregam o fim dos feriados religiosos – ou apenas dos seus significados. Os que não pregam esse fim esquecem a verdadeira finalidade deles. Além disso, a tecnologia nos rouba tempo precioso e nos faz ver o tempo passar muito mais rápido do que realmente passa.
As famílias não se reúnem tanto quanto antes, pois nos sentimos cada vez mais livres na nossa sociedade individualista a quebrar paradigmas, mesmo os que são bons.
Mas o que me fez questionar o Natal esse ano foi a razão de tirarmos esse dia do ano para desejarmos coisas boas a todos em atacado e abraçarmos uns aos outros, se no resto do ano vivemos fechados em nossos mundos virtuais e individuais, cheios de afazeres que nem temos tempo de parar para pensar no significado de “Paz na Terra e Boa Vontade entre os Homens”.
Até por que o conceito de paz na nossa sociedade é “cada macaco no seu galho” e o conceito de boa vontade entre os homens é “cada um no seu quadrado”.
Hoje, coisas como tolerância, paz, respeito são pregadas como se o caminho para alcança-las seja não se importar muito com o que os outros pensam ou fazem, mesmo que isso lhes faça mal.

Não é bem visto na sociedade de hoje aconselhar ou iniciar uma discussão sobre pontos de vista. Até por que é meio difícil fazer isso sem iniciar a “Terceira Guerra Mundial” ideológica.
Equilíbrio é uma palavra a muito esquecida.
Este é o fim do Natal como pregamos. É o fim da cordialidade, da educação e dos verdadeiros respeito e tolerância. Na ânsia de uma busca desenfreada por independência e identidade própria, o ser humano estabelece os próprios conceitos de “paz” e “Boa vontade”, esquecendo-se de que vivem em sociedade e de que são seres relacionais em sua essência mais profunda.

Sem entrar em nenhuma discussão sobre datas corretas ou sincretismo religioso, a origem cristã do Natal conta a maneira como Deus, o Verbo, a Ação, se encarnou em um bebê e se tornou o pivô da salvação do mundo.
Isso é pintado em presépios, cartões de natal e musicais como algo de beleza singela pura e simples, mas contem uma verdade muito mais profunda e transgressiva do que gostamos de aceitar.
A Encarnação do Verbo quebra todas as nossas expectativas de ter uma vida próspera como recompensa de uma vida correta, afinal se o Rei do Universo nasceu nas condições que nasceu, quem somos nós para exigir prosperidade financeira dEle?
O nascimento de Jesus em meio a um escândalo familiar apenas nos deixa desconfortáveis diante de um ser puro que surgiu do meio de burburinhos e fofocas para provar que ninguém tem o direito de julgar ninguém, senão o próprio Deus.
O nascimento de Emanuel – Deus Conosco – só prova o quanto qualquer tentativa que buscamos de ser nossos próprios deuses é ridícula e infundada. Se Deus teve que descer, significa que não temos capacidade para subir por nós mesmos.
Por fim, ao viver uma vida cercada de injustiças e sofrimento, culminando com uma morte brutal e injusta, o símbolo do Natal Cristão apenas nos mostra que todo o sofrimento do mundo já foi pago.
E sua promessa de retorno só nos deixa numa situação em que temos que escolher entre perder a paciência e a salvação, ou esperar o Retorno físico de Cristo à Terra com paciência de Jó.

No fim das contas, o Fim do Natal é consequência da negação que nossa mentalidade pós-moderna faz do significado do nascimento, vida , morte e ressurreição de Cristo.
Não há satisfação, não há salvação, não há passado, presentes ou futuro sem o verdadeiro Fim do Natal, que é Cristo Jesus, Alfa e Ômega, Princípio e Final.

O Natal foi ontem, mas Jesus precisa nascer na sua vida hoje, amanhã, depois, e depois... Até o fim dos Séculos.

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