Gambiarra de Luxo


A primeira coisa que aconteceu depois que Adão e Eva comeram do fruto do conhecimento do bem e do mal, não foi a consequência final – no caso, a morte – mas sim a percepção da nudez deles. Como já falamos aqui, a nudez deles não se tratava da simples falta de roupa.
O pecado nos leva à superficialidade, mas não é superficial em si mesmo.
A nudez deles representava uma única coisa: Faltava algo neles. Algo que era parte inerente deles, mas eles haviam perdido. E era a melhor parte deles.
E era tudo consequência de uma atitude que Deus havia dito para eles que não tomassem.
Então o que fizeram? Costuraram folhas de figueira para cobrir a nudez deles e se esconderam.
Se esconderam de Deus, que não só era o melhor amigo deles, como sabia de todas as coisas.

O problema todo é que, como membros da absurda árvore genealógica da família “Barro”, descendentes sanguíneos de Adão e Eva, todos os seres humanos herdaram essa nudez.
E junto com ela vêm todas as tentativas – um tanto idiotas, nós devemos admitir – de esconder, fugir e negar a Deus.

Afinal, não foi só o primeiro casal que, além de se esconder e fazer gambiarras, ficou dando desculpas e jogando a culpa em cima dos outros.
“Por acaso sou babá do meu irmão?” Disse um mal humorado – e talvez traumatizado – Caim depois de cometer o primeiro assassinato.
Jacó literalmente “kibou” a herança do irmão gêmeo e nem conseguiu desfrutar dela por ter que fugir.
Davi “catou” a mulher de um dos seus melhores soldados, a engravidou e ao invés de passar por cima do orgulho e da nudez para não fazer mais besteira, matou o cara.
Jonas acreditou mesmo que conseguiria fugir de Deus se escondendo no porão de um navio que ia na direção contrária ao lugar onde Deus o enviara.
Pedro não conseguiu evitar que a profecia se cumprisse e ele negasse três vezes ao mestre que dizia amar.
Pilatos se achou esperto quando lavou as mãos do sangue de Cristo pra não complicar sua própria posição no governo.
Ananias e Safira realmente acharam que poderiam enganar Deus.
Alguns desses aí foram perdoados e morreram com a esperança de ressurgir no Juízo Final como filhos de Deus. Outros morreram tentando fazer gambiarras para se safar sem ter que abrir mão das folhas de figueira que costuraram para si.

E a gente continua fazendo gambiarras espirituais pra tentar ser santo ou tentar ser encarnações do secularismo e do racionalismo.
Mas se cavarmos fundo, não há muita diferença entre o cristão que se segura nas folhas de figueira do “comportamentismo” ou das indulgências pós-modernas e aqueles que, se apegando à volúvel sabedoria humana, negam a Deus e à uma verdade absoluta vinda dEle, por não conseguirem tirar o homem do centro do Universo.

No fim das contas fizemos tanta, mas tanta gambiarra, que temos pessoas defendendo princípios que destroem quem elas são e uma sociedade tão doente, mas tão doente, que acha que está se curando quando vê gente nua na tv e supostas “desmitificações” de conceitos “arcaicos” na cultura. Gente que defende causas sociais e esquece de amar a si mesmo e ao próximo. Gente que se acha deus, mas que não passa de pó, e pó sem brilho nenhum, sem glamour.

Os pobres coitados esqueceram que são miseráveis, pobres, cegos e nus - uma nudez tão vergonhosa e tão profunda, que nem as mais caras peças de alta costura podem esconder -, e acham que a folha de figueira da licenciosidade do século XXI vai fazê-las esquecer de que precisam abrir mão de si mesmas para se encontrarem.

Comentários

  1. XÔÔM! Muito bom teu texto! Gostei muito de como você avaliou as coisas, mas outra perspectiva que eu gosto muito sobre a vergonha da queda é a do Lewis. Ele fala que depois da queda, a vergonha é o único sentimento genuíno que o ser humano sente, coberto por razão.

    "A impressão que deixa ram na maioria das pessoas é que o sentido de Vergonha é algo perigoso e nocivo. Temos nos esforçado para vencer esse senso de recuo, esse desejo de ocultar, que ou a própria natureza ou a tradição de quase toda a humanidade associou à covardia, à lascívia, à falsidade e à inveja. É-nos dito para "pôr tudo para fora"; não para que nos humilhemos, mas com base no fato dessas "coisas" serem muito naturais e que não devemos envergonhar-nos delas.
    Todavia, a não ser que o cristianismo seja totalmente falso, a percepção de nós
    mesmos que temos em momentos de vergonha deve ser a única verdadeiramente real; e mesmo a sociedade pagã tem geralmente reconhecido a "sem-vergonhice" como o ocaso da alma. Na tentativa de remover a vergonha destruímos uma das defesas do espírito humano,
    exultando loucamente como exultaram os troianos quando quebraram as suas muralhas e fizeram entrar o Cavalo em Tróia. Não sei de nada que possa ser feito além de começar a reconstrução o mais depressa possível. É um trabalho tolo remover a hipocrisia removendo a tentação de ser hipócrita: a "franqueza" das pessoas que desceram abaixo da vergonha é uma franqueza muito medíocre."

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  2. E tipo, você de vários exemplos aí, alguns deles foram sobre concertar o erro, outros sobre fugir deles, mas acho que na Queda, quando eles colocaram a roupa, eles estavam com vergonha de Deus, de si mesmos. Acho que naquele momento eles viram que fizeram algo errado.

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