Deus Antipático


Em seu último álbum, a banda de symphonic metal secular Kamelot, gravou uma música chamada "My Confession" cujos dois primeiros versos do refrão são: "Meu Deus tem mostrado sua simpatia / Para todos os espíritos perdidos". Ficava me perguntando se estariam sendo irônicos.
Foi quando alguém me falou que esperava que Deus demonstrasse mais a sua simpatia.
E eu fiquei encucado. Nunca tinha parado para pensar na simpatia de Deus Pai ou mesmo de Deus Conosco - Jesus. Então pensei que talvez simpatia não fosse uma característica exatamente divina.

Fui procurar a definição de simpatia.
Segundo o Aurélio, simpatia é:
1. Tendência ou inclinação que reúnem duas ou mais pessoas.
2. As relações que há entre pessoas que instintivamente se sentem atraídas entre si.
3. Sentimento caloroso ou espontâneo que alguém experimenta em relação outrem.
4. Primeiros sentimentos de amor.
5. Atração que uma coisa ou uma ideia exerce sobre alguém.
6. Tratamento intencionalmente amistoso dado a alguém.
Ok. Deus inclinou-se. E ele se inclinar foi o que possibilitou que a humanidade incapaz de chegar até ele, tivesse a oportunidade de abraçá-lo. Mas ainda não vejo essa "inclinação" que reune duas ou mais pessoas como algo tão profundo quanto a intrigante inclinação divina à humanidade.
"Instintivamente se sentem atraídas entre si", o que atrai Deus a nós é o amor que está nEle, e não em nós. Passo.
"Sentimento caloroso ou espontâneo que alguém experimenta em relação outrem." Deus é espontaneo, é caloroso, mas seu amor pela humanidade vai além disso.
"Primeiros sentimentos de amor". Isso não cabe como característica de alguém que é a definição de amor.
"Atração que uma coisa ou uma ideia exerce sobre alguém." Já falei sobre o que atrai Deus à nós né?
Então chegamos na definição que considero a mais comum hoje em dia para simpatia e que definitivamente não se encaixa entre as características divinas: "Tratamento intencionalmente amistoso dado a alguém."
O 'intencionalmente' dessa frase me traz um desconforto que provém de uma sensação de que a simpatia que conhecemos e utilizamos não passa de uma espécie de verniz social que utilizamos para tentar provar a alguém que vamos com a cara dessa pessoa, ou mesmo para disfarçar nosso descontentamento em relação ao que as pessoas são.
Mas não estamos falando de alguém que precise de verniz social para esconder sua face! Estamos falando de um Deus que se mostra amor e justiça em quantidades aterradoras até para qualquer cristão, por mais devoto que seja. Estamos falando de alguém que se mostra como é e se não se mostra inteiramente é por que nossa necessidade de verniz social não suportaria tamanha sinceridade.
Daí tirei que o "Kamelot", mesmo que não tenha intenções nocivas, está equivocado quando diz que Deus mostra simpatia. Pois simpatia é pouco demais. Deus não é simpático.
Mas, apesar do título do texto e da sinceridade humanamente excessiva de Deus, "antipático" também não é o termo que melhor se encaixa no Deus que eu conheço. O Aurélio diz:
1. Que inspira antipatia:
2. Que sente antipatia; contrário, adverso:
3. Discordante, discorde, desacorde, desarmônico:
4. Indivíduo antipático.
Deus não é assim, mesmo que na maioria das vezes abomine as nossas atitudes.
Mas se ele não é simpático, nem antipático, o que ele é?
De todas essas "patias", talvez a que chega mais próxima de Deus seja a "Empatia".
Empatia que segundo o Aurélio é "A capacidade psicológica para se identificar com o eu do outro, conseguindo sentir o mesmo que este nas situações e circunstâncias por esse outro vivenciadas"."Ato de se colocar no lugar do outro".
E é aí que se encontra a maior dificuldade de aceitarmos um Deus que diz que ama tanto o MUNDO (João 3:16), mas também diz que tem misericórdia de quem lhe aprouver (Romanos 9:15).
Afinal, nossa tendência em relação à sociedade é escolher entre a simpatia ou a antipatia como formas de verniz social para aproximar ou afastar pessoas, para justificar situações e erros, e talvez até crimes.
Temos leis, regras de etiqueta, listinhas sobre moral e bons costumes e belíssimas pregações sobre tolerância, mas pegamos isso tudo e resumimos em "simpatia e antipatia" e não percebemos que criamos muros de aparente proteção pela sociedade.
Não compreendemos e nem gostamos da tal empatia, por que ela exige que entendamos o lado de quem tem ideias completamente diferentes da nossa e isso com certeza levaria à verdadeira tolerância, à verdadeira paz e amor e ao fim do preconceito. Mas é muito mais fácil lidar com as outras duas "tias".
Então exigimos do Deus soberano a simpatia necessária para que ele seja aceito pela nossa sociedade, substituindo seu amor pleno por uma educação menos invasiva, e quando ele mostra a sua justiça, o acusamos de antipático e carrasco.
Mas um Deus, que mesmo sendo Rei, tornou-se servo, e mesmo sendo Vida, morreu para que a raça de seres humanos envernizados pelo desejo de esconder o pecado pudesse sentir o verdadeiro amor, não precisa justificar suas atitudes diante da raça ingrata à qual salvou.
Ele não precisa se justificar por que é pleno em si mesmo, não precisa de verniz social por que ele é o que é. E o mais irritante disso tudo para nós humanos, é que ele não exige de nós simpatia ou antipatia. Apenas empatia. Amor. Algo bem mais difícil do que cumprir regras.
É por isso que tantos acusam Deus de maldade. Por que ele não precisa ser bonzinho diante de nós, não precisa mostrar sua simpatia, por que ele é a essência da bondade e já mostrou na cruz todo o amor que conseguiríamos digerir, mesmo que com dificuldade.
Então pare de exigir de Deus e de si mesmo a educação, a polidez, a etiqueta, a simpatia. A única coisa que você precisa dEle é o amor, e é de graça. Somente quando pararmos de nos perguntar o que Deus fez por nós, e começarmos a nos perguntar "o que estamos fazendo com a salvação que nos foi concedida", a humanidade poderá chegar mais perto da paz e da tolerância.
Enquanto isso, tudo o que disserem sobre acabar com preconceitos e destruir religiões em prol da paz mundial é vazio de sentido e desprovido de esperança.

Comentários

  1. Deus é amor xD
    Leia algum dia "O Problema do Sofrimento"... Trata muito bem sobre o nosso relacionamento com Deus.

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  2. O meu Deus de João 3:16, está muito além da definição de "anti" ou "simpático", essa relação e muito mais usada por nós, conforme nossas conveniências, pois não conseguimos entender o real sentido de tanto amor.
    Precisamos conhecer e aceitar o Deus que tanto amou, para sabermos que o sentimento Dele vai além de se inclinar ou tendências puramente sociais.

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