O Controle da Felicidade


A grande busca geral da humanidade, independente de raça, cor ou religião, é a felicidade. Ou paz de espírito. Ou qualidade de vida. Depende do ponto de vista.
O mais natural é procurar a receita do bolo da felicidade. A fórmula correta. Até que se percebe que isso não dá certo, por que a vida não é igual a um fogão no qual você consegue controlar as condições para fazer uma receita. Muitos insistem na receita por que acham que com o tempo vão aprender, afinal a maestria vem com a prática. Mas novamente a vida se mostra implacável ao deixar bem claro que você nunca consegue achar os mesmos ingredientes para todas as tentativas.
Depois de tais tentativas, a pessoa parte para o não esperar muito para não se decepcionar. 
Grande parte da origem da tristeza e da desesperança se encontra na decepção. Essa coisa incômoda que nos frustra sempre. 
Depois de muito quebrar a cara, aprendi que o segredo não é evitar a decepção. Esperar menos das coisas e das pessoas para se decepcionar menos é ilusão. A decepção é inevitável. A diferença entre quem é feliz e quem não é está na forma de encarar a decepção e não a tentativa de evitá-la.
Não criar expectativa para não decepcionar é até mais frustrante. Expectativa é natural. Não é uma coisa que você sempre consegue controlar. Assim como você não controla o curso da sua vida. A decepção SEMPRE existe em algum momento, em uma hora ou outra. E quem costuma não criar expectativas sofre por antecipação, por que não espera nada. E esperar é algo inerente do ser humano. Não tem como evitar a esperança, mesmo que tentemos matá-la de todas as formas. Podemos diminuí-la. Mas como sempre dizem: ela é a "ultima que morre". A questão é se ela morre ou não depois da decepção.
O problema é que quando se acostuma com esse método de “evitar a decepção”, isso se torna viciante, e parece estar dando certo, mas é ilusório e a sensação de frustração não vai embora. E o curso natural desse caminho é o estágio de completa desesperança, as vezes percebido pela própria pessoa, mas na maioria das vezes não. Então vem a amargura, a depressão, a revolta. E logo depois de passar dessa fase, ou a pessoa atinge um estagio de depressão profunda ou se torna fria. Fria demais.
Mas como os cristãos encaram isso? Onde entra a fé nessa história toda? 
Uma das definições Bíblicas de fé (e a mais clara) é a de Hebreus 11:1.
“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem.”
Ok. Você já leu isso. Você sabe a definição de fé. Você diz que tem fé.
A gente acredita inclusive que Deus abriu o Mar Vermelho para o povo de Israel. Mas será que eu acredito que Deus abriria o Rio Amazonas caso precisasse atravessá-lo a seco?
Você acredita que Deus pode REALMENTE mover uma montanha caso você peça?
Tem gente que depois de muito tentar acreditar, ou para de crer em Deus ou em seu poder, ou começa a acreditar que Deus se lembra de todos, menos dele.
A fé é a certeza de coisas que se esperam. A fé em Deus é a certeza de coisas que se esperam dEle. A questão está aí. 
O que a gente espera de Deus? Deus não precisa da gente, mas faz questão de nos lembrar que Ele nos ama e precisamos dele. A única coisa que podemos esperar dEle é o que Ele nos prometeu. 
“E será que antes que clamem, eu responderei. Estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Isaías 65:24)
E essa é uma das muitas promessas de ânimo que existem na Bíblia. Mas as pessoas esquecem-se de outros textos.
“Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. (Luc. 9:58).
“Em verdade vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria” (João 16:20)
“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo. 
João 16:33”
O mesmo Jesus que disse “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14.27) disse “Não julgueis que vim trazer paz a Terra; não vim trazer-lhe paz, mas espada; porque vim separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão os seus mesmos domésticos.” (Mateus, 10: 34-36).
E isso não é contradição. Por que ele fala de paz do mundo e fala da paz dEle. A paz do mundo é imediata. É o agora. A paz de Deus é esperança e fé.
Esperança e fé dentro do cristianismo implica em saber que Deus ouvirá as suas orações mas nem sempre as atenderá do jeito que você imagina. Implica em aceitar que você não tem o controle nem da sua própria vida, nem do que acontece ao seu redor. Implica em entender que você não foi criado para agora.
Muitos acham que a felicidade está em ter o controle, mas assista qualquer filme de comédia como “Click” e “Todo Poderoso” e verás que ter o controle não serve pra gente.
O dicionário Aurélio define felicidade da seguinte forma:
[Do lat. felicitate.]
S. f. 
 1.        Qualidade ou estado de feliz; ventura, contentamento: &  
 2.        Bom êxito; êxito, sucesso: 2  
 3.        Boa fortuna; dita, sorte: 2  

Deus nunca te prometeu felicidade. Ele te prometeu satisfação plena. E felicidade é muito diferente de satisfação. Você pode estar feliz e não estar satisfeito.
E estando feliz você pode ficar triste a qualquer momento.
Estando satisfeito você pode não estar feliz, mas sempre vai ter segurança, otimismo, alegria e todas as situações e vai encarar a vida como algo bem maior do que você. E sempre estará satisfeito com a segurança do seu futuro. E essa segurança está em entregar o controle pra Jesus. A satisfação plena está em reconhecer que você está aqui para sofrer até alcançar seu objetivo, reconhecer que você não foi criado para isso aqui, que você não foi criado para ser adorado, não foi criado para controlar o curso da vida. Você foi criado para adorar, para ser amado, e acima disso, amar. Para ter fé e esperança. Você foi criado para receber tudo o que tem de Deus. 
A diferença é que quem tem o controle fica infeliz enquanto sofre, quem entrega o controle a Deus sofre, mas tem a certeza de que vai acabar, mesmo que demore.


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