Cegos...


A chuva cai suavemente no telhado.
Eu tento desesperadamente decidir o que realmente quero. Tenho a sensação de que uma das duas opções que tenho é a que eu mais desejo, mas é a menos provável.
Ao mesmo tempo, escolhe-la parece ser uma traição comigo mesmo e com as pessoas que eu amo.
As palavras fluem. São o único meio coerente que eu tenho de expressar o que sinto. E ainda assim, essas palavras soam incoerentes.
No meio dessa confusão de paradoxos, eu não consigo enxergar nenhum palmo à minha frente.
E a verdade é que nós NUNCA conseguimos enxergar um palmo à nossa frente. Talvez possamos deduzir o que está por vir. Mas nunca sabemos ao certo.
E mesmo assim nos agarramos à esperança vã e às vezes nociva de que nós podemos controlar nosso futuro.
Mas no fim de tudo, quando as coisas realmente acontecem, percebemos que durante toda a nossa vida tentamos controlar algo que não pertence à nossa esfera de controle.
Nosso ego é tão grande que não nos permite admitir que nossa segurança real não pode ser feita por nós mesmos.
Tudo o que nós podemos fazer é nos render.
Render-nos ao único Ser no Universo que é capaz de enxergar à frente. Não apenas um palmo à frente. Ele enxerga tudo. O que passou, o que está acontecendo e tudo o que ainda vai acontecer.
Sinto uma brisa suave contornar o meu corpo suavemente.
Sinto-a como um abraço.
É um abraço confortavelmente frio e aconchegante.
Familiar.
E a sensação é de que a única coisa realmente familiar que tenho é aquele abraço de alguém que não posso ver. E é em alguém que não consigo ver que devo toda a minha vida, toda a minha devoção e toda a minha confiança.
Inseguro, hesitante e apreensivo, com o coração ferido e apertado, eu faço a única coisa que eu deveria fazer sempre: entrego meu futuro e a minha decisão a quem realmente sabe das coisas.
Deus, eu estou aqui.

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