A Porta dos Fundos dos Relacionamentos: Como o Romantismo Destruiu o Amor
Para ler ouvindo: Playlist "Amorzinho"
Screenshot do sketch "Eu vos Declaro" do Porta dos Fundos |
Um dos vídeos do canal de humor Porta dos Fundos - "Eu vos Declaro" - satiriza a maneira como as pessoas levam o casamento e os votos matrimoniais. Quando o padre pede para que os noivos repitam os votos "na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza", os noivos pedem para parar e rever esses votos aí antes de consumarem o casamento. Isso me fez lembrar de algo que constatei já há algum tempo:
O romantismo destruiu o amor em sua mais pura essência.
Não estou falando de fazer serenatas, dar flores ou escrever cartas. Isso tudo faz parte de uma cultura que pode ser o gosto de alguém ou não.
Estou falando da noção romântica dos relacionamentos que veio junto (ou talvez em resposta) à modernidade. O romantismo influenciou tanto a literatura que há traços dele até hoje nos livros e filmes. As pessoas sempre preferem o romântico ao realista. E quando pendem pro realismo, se agarram no pessimista, que também é fruto do romantismo. Parece confuso, mas é simples.
O ideal romântico tornou os amores sublimes demais para serem alcançados por meros mortais defeituosos como nós, tornou os amores platônicos desejáveis, fez do escapismo uma solução para muitos.
Ele fez com que muitos sonhassem com o final feliz, o felizes para sempre, o príncipe no cavalo, a princesa de pés pequenos, os sinos da paixão, as frases de efeito, as serenatas apaixonadas e diálogos inesquecíveis à beira do mar.
O romantismo pode dizer que trata de amor, mas é um amor egoísta, que só busca a própria felicidade em outrem, e quando busca a felicidade do outro, cai no outro extremo e não sobra nada para si.
O romantismo transformou relacionamentos em utopias e definiu o amor como algo abstrato, como um sentimento.
Graças a ilusão do romantismo, os desiludidos não creem mais que podem achar alguém com quem possam viver a vida inteira. E quando o fazem, já pensam: "Bem, acho que dura, mas se não durar... Bem, divórcio está aí pra isso".
"Não éramos mais felizes juntos" é a frase que define o fim de muitos relacionamentos que não terminam por traição, nem por violência doméstica ou algum motivo mais grave. Mas acontece que na maioria das vezes, a pessoa não era feliz junto com a outra simplesmente por não ser feliz sozinha. Se você não encontrar a felicidade sozinho, dificilmente vai ser feliz junto com outra pessoa, esperando que esta te faça feliz.
Não que uma pessoa não possa fazer outra feliz. Os relacionamentos saudáveis partem do pressuposto de que as duas partes estão partilhando alegrias que já possuem, e não esperando que a outra pessoa proporcione alegria pra você.
Se for assim, como você vai fazer quando a pessoa precisar receber felicidade da sua parte quando ela não tiver nenhuma a oferecer? Se a pessoa entrar em depressão, como você vai apoiá-la já que sua felicidade vem dela? Se alguém próximo da pessoa morrer e ela precisar do seu apoio por estar infeliz?
Como você vai fazer nos tempos difíceis quando você terá que tirar alegria de algum lugar para fazer a pessoa feliz?
Não confunda essa felicidade independente com apologia à solidão: a solidão geralmente não é feliz. Mas seu relacionamento amoroso é reflexo dos outros relacionamentos que você tem. Ninguém doa o que não tem, então você não pode fazer ninguém feliz se você não é feliz, você dificilmente consegue demonstrar carinho se não recebeu carinho.
Mas é aí que entra a beleza do amor sem romantismo e sem preconceitos.
O amor nunca foi sentimento.
Como disse um pastor amigo certa vez, se amor fosse sentimento não seria mandamento.
A Bíblia manda que amemos uns aos outros, amemos a nós mesmos, amemos o próximo e amemos a Deus. Mas não há como mandar ninguém sentir alguma coisa. É impossível que alguém sinta algo sob a ordem de sentir isso. É mais provável que a pessoa sinta o contrário do que foi ordenado.
Como diz uma música antiga do Novo Tom: "O amor é uma escolha".
Mesmo o amor instintivo - como o dos pais para os filhos - está sujeito a escolhas, quem dirá o amor exigido para o namoro e o casamento.
Mais do que compartilhar alegrias, o amor também envolve suportar as tristezas, os defeitos e os tempos difíceis.
Uma outra frase muito recorrente no final dos relacionamentos é: "Você não é mais a pessoa por quem eu me apaixonei".
Outro traço egoísta. Aprenda que todos mudam e que todos possuem aspectos que não conhecemos imediatamente. Não existem pessoas ideais, não existem pares perfeitos. Pares perfeitos são os que estão conscientes de que existem coisas que não gostam um no outro, que todos erram.
Não existe relacionamento feliz sem perdão, sem negação do eu, sem submissão mútua.
Parece que hoje ninguém gosta do conceito bíblico de Amor como fruto do Espírito, o amor como mandamento, e do amor de homem e mulher como escolha. Afinal, se o amor é mandamento, você não tem a desculpa de que "não sente mais nada", se amor é fruto do Espírito, você não tem a desculpa de que não consegue mais sozinho, afinal o Deus que te deu o amor foi até as ultimas consequências e não te abandonou. Se o amor é uma escolha, você não tem a desculpa de que "se acabou, está acabado".
Não quero dizer com isso que sentimentos não são importantes. O amor verdadeiro, mesmo que parta de escolhas, vai desenvolver os sentimentos necessários. Se não eles não forem desenvolvidos, tem alguma outra coisa errada. Sentimentos são fundamentais, mas eles são submissos à escolha. A Bíblia deixa bem claro que nosso coração é enganoso. Até mesmo a atração física é necessária, embora tenha menos (beeeeem menos) importância do que a gente costuma dar pra ela. Mas ainda assim uma coisa não anula a outra.
O amor não é romântico. O amor dói as vezes, é desconfortável, afinal, amar e ser amado exige vulnerabilidade, exige a queda de todas as máscaras, exige honestidade completa, exige perdão mesmo quando parece injusto (afinal, isso é perdão), exige abrir mão de coisas que gostamos (e até amamos). O amor exige que você se conheça e conheça quem você é em Deus antes de se entregar pra alguém. Você não pode se entregar pra ninguém sem saber direito o que está entregando.
A Bíblia manda que as esposas sejam submissas aos seus maridos e que seus maridos amem suas esposas como Cristo amou a Igreja. Pois bem, Cristo amou a Igreja morrendo por ela.
Relacionamentos cristãos estão baseados no amor de Cristo: o amor da submissão mútua, o amor de Coríntios, que tudo espera, tudo crê, tudo suporta. O amor dos votos matrimoniais "na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza".
Não aquele amor egoísta dos livros e comédias românticas.
O amor nu, cru.
O amor de verdade.
Valores distorcido - a gente vê por aqui...
ResponderExcluirPrecisamos voltar ao primeiro amor, ao amor dos primórdios, como Deus criou..!
Boa Jon