[Resenha] Daniela Araújo - Poeira cósmica, abraços divinos e belas melodias do "Criador do Mundo"

Um dos motivos mais comuns das pessoas duvidarem de um Deus Criador que se importa com a humanidade é também um dos maiores mistérios do amor de Deus apresentado na Bíblia:
Como o Criador de um Universo tão imenso pode se importar com grãos de poeira cósmica a ponto de morrer pelos habitantes de um Mundo pequeno?
Qual a relação que a amplitude imensurável do Universo pode ter conosco, meros seres humanos fadados a uma vida de altos e baixos, erros e acertos?
Pequenas criaturas que muitos creem ser obra do acaso e não conseguem perceber inteligência na ordem de tudo.
Outros, entretanto, param e observam o infinito e simplesmente não conseguem crer que a beleza universal possa ter vindo do acaso.
Mais do que isso: mesmo reconhecendo sua pequenez no Universo, não consegue deixar de sentir uma agulha com uma linha colorida costurando sua vida e mantendo um equilíbrio sobrenatural nesse trajeto de altos e baixos.

A julgar pelo seu segundo álbum, Daniela Araújo faz parte do segundo grupo.

“Criador do Mundo” sucede o debut autointitulado da cantora sem decepcionar os ouvintes, mesmo que tenha seguido rumos bem distintos.
A assinatura está lá. E não falo só do timbre único de Daniela, mas também do seu “gosto” musical. Está tudo lá. Mas ainda assim parece expandir e aumentar para níveis universais todo o intimismo do relacionamento pessoal com Deus retratado no disco anterior.

A linda capa me lembra dos questionamentos feitos acima e acompanha a ideia que consegui captar: O Universo é um espaço grande demais para a nossa pequenez, e a liberdade de explora-lo se encontra justamente em submeter-se ao Criador.
E é por ser profundo assim que “Criador do Mundo” entra pra lista de um dos melhores álbuns cristãos nacionais que já ouvi, fazendo parte de uma nova vertente da cena musical cristã que eleva o “gospel nacional” a níveis artísticos pouco vistos anteriormente.
Daniela, Leonardo Gonçalves (que é marido da Daniela e participa do ábum), Os Arrais (O Tiago também participa do álbum), Felipe Valente, Palavrantiga, Lorena Chaves, Azulimão (Larissa Muniz e Jefté Salles), Douglas & Marcelle, dentre outros, estão nessa vertente. Todos diferentes uns dos outros, mas com algo em comum: Usar sua arte para expressar que sua vida em geral não é segmentada. Deus tem que ser centro absoluto de tudo.

E “Criador do Mundo” fala muito sobre isso. Sobre te-lo como centro de tudo, sem separações, sem convenções religiosas ou sociais. E talvez por isso, esse álbum seja tão essencial e universal. Por tratar de coisas tão simples e profundas que tocam mesmo quem não é ligado ao cristianismo.
Além disso, o álbum transforma toda essa amplitude cósmica que parece nos diminuir num abraço delicioso de um Deus que pensa em suas criaturas como filhos que precisam do seu amor.
E a resposta da cantora a esse Deus é firme, sensível, bela e sem amarras.

E toda essa profundidade é cantada e tocada com uma qualidade musical pouco vista na música contemporânea. Fazendo um pop rock permeado de elementos eruditos e arranjos complexos, que ousam acrescentando uma ponte rap aqui (Em “Entrega” tem uma rima simplesmente genial do Lito Atalaia) ou as vezes fazem um indie folk delicioso de ouvir. Os duetos e participações para mim são ponto alto, Leo Gonçalves, Lito Atalaia, Tiago Arrais ou o coral infantil de Angola, todos encantam e as músicas que participam estão entre as minhas preferidas.
A variedade musical é incrível e nunca compromete a unidade do cd.

O único problema real que tive com esse CD foi ter de escolher entre comprar no iTunes com duas faixas extras e comprar o CD físico com aquele encarte maravilhoso. 

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