No céu tem pão?


Tenho lido e escutado algumas frases ditas por amigos e conhecidos que deixaram o cristianismo e algumas das justificativas têm muito a ver com a questão de “ir par o céu”, “entrar no paraíso”, “Não tenho perfil pra ser santo”, “Prefiro o inferno, é mais divertido”, “não quero fazer parte de uma elite separatista”, “não sou especial assim”, “o céu é uma ilusão”, “o paraíso deve ser chato”.
Afinal de contas, qual o perfil do cidadão celeste? Quais são os quesitos a se preencher no formulário de obtenção do visto para entrar no paraíso?

O fato é que nós vivemos numa era onde as interpretações bíblicas – não o texto em si, mas as interpretações – sofreram tantas distorções e influências culturais, que o conceito de céu e inferno que se tem hoje na cabeça da maioria das pessoas se parece muito mais com a dinâmica dos Campos Elíseos e do Tártaro da mitologia grega do que com a doutrina bíblica de salvação. Isso existe por causa de alguns conceitos aparentemente inofensivos e sem ligação, mas que influenciam forte e diretamente na nossa percepção de salvação, pecado, vida espiritual e paraíso.

Conceitos Errados

Parte disso está ligado, indiretamente, ao conceito dualista que se foi criado com a distorção de textos como o de Ezequiel 44:3 que diz "A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano e o farão discernir entre o imundo e o limpo."
Esse texto é usado por muitos fora de contexto para criar um certo tipo de segregação cultural e demonização de certos elementos da vida, assim como é usado para criar o conceito de separação da vida espiritual e da vida secular.
Porém se olharmos à luz de outros textos bíblicos, como 1 Coríntios 10:31 (“Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para honra e glória de Deus”) ou mesmo vários discursos de Jesus a respeito de “nascer de novo”, “perder a vida e acha-la”, “aquele que deixar pai, mãe...”, dentre outros, veremos que essa separação do que você faz secularmente e espiritualmente é ilusória, existe uma diferença grande entre o que é profano e o que é secular.
Toda a sua vida secular reflete o que acontece na sua vida espiritual. Seguir a Cristo implica uma mudança tão radical, que mesmo que algumas coisas da sua vida antiga sejam mantidas, elas serão vistas por você e pelas outras pessoas sob outra perspectiva, outra ótica.

Outro conceito errôneo é a questão do pecado. Pecado implica coisas mais profundas do que simplesmente descumprir regras. Existem várias palavras nos textos bíblicos originais que traduzimos como pecado, e se formos defini-lo como um todo usando o saldo final, veríamos que pecado pode ser definido simplesmente como “separação de Deus”.
E após Adão, TODOS nós nascemos nessa condição, todos nascemos com a maldição do pecado, que nos separa de Cristo e nos leva à morte. Através de Cristo, TODOS nós nascemos com a oportunidade de reverter isso através da graça (quem viveu antes de Cristo tinha todo o sistema de sacrifício do Santuário no Antigo Testamento, simbolizando a vida e morte dele). Graça essa que é oferecida absolutamente a TODAS as pessoas, não importando quem sejam ou o que tenham feito.
A Graça é o contraponto imediato do pecado. Todos nós nascemos em pecado, mas todos nascemos com a graça disponível. Todos nascemos destinados a morrer pelo salário do pecado, mas predestinados a viver pelo preço pago por Cristo.

Distorcido também é o conceito de morte e inferno. Esse merece um post só pra ele, com muitas referências bíblicas e teológicas. Basta dizer que o inferno não é como se pinta - aliás, não é nem o que se diz - e que a morte não é castigo e sim consequência. E há uma diferença ENORME entre as duas coisas.
A morte é uma consequência natural da separação de Deus, ou seja, do pecado. Isso por que Deus é a própria vida. Se você se desliga dEle, você pode ter um período de bateria, mas vai acabar descarregando, e só vai ser carregado de novo se não tiver perdido o Carregador enquanto ainda estava vivo.
A morte é a consequência sofrida por toda a humanidade pelo pecado de Adão e Eva.
Alguns podem achar isso injusto, mas apenas se não levarem em consideração que assim como a morte veio por um só homem, por um só homem veio a vida (Romanos 5). E assim como a consequência veio para toda a raça humana, a solução também é disponível a toda ela! Inclusive para aquela pessoa que você não imagina que pode ser salva!

Ok, e onde o céu e o paraíso entram nisso?

Vivemos num mundo onde vida e morte, pecado e salvação, bondade e maldade ainda coexistem. Alguns pregam que essas coisas não podem sobreviver sem a outra, mas esse é um conceito biblicamente errôneo, já que a Vida é Vida e a morte é a ausência dela, assim como pecado e maldade são ausência de Deus e sua bondade.
A volta de Jesus e a ida dos salvos para o céu e depois de volta para a Nova Terra é na verdade o símbolo do fim de todas as coisas que são contrárias ao plano original de Deus. O fim da morte, da dor, do sofrimento, da fome, das guerras, do ódio, da violência e da intolerância. O fim da separação. O fim da separação. Separação de Cristo, que finalmente será visível aos olhos, pois tudo no mundo será espiritual, dentro e fora de nós.

Mas quem pode participar disso? Não é só quem é cristão, não é só quem cumpre a lei? Não é só quem pertence a alguma denominação protestante?
O fato é que o paradoxo da salvação coloca as pessoas de todas as crenças, religiões, com fichas criminais sujas ou limpas, por justiça ou injustiça, todas as raças, nações, tribos e línguas, TODOS, absolutamente TODOS são herdeiros em potencial do Reino dos Céus.
A condição é querer herdá-lo. O Caminho, a Verdade e a Vida que levam ao céu tem nome: Jesus Cristo. Nem todos os conhecem, e Deus não leva em conta o tempo da ignorância, ao mesmo tempo em que fica bem claro que, de alguma forma, o Evangelho chega a TODOS em algum ponto da jornada, de formas inimagináveis. Dos que conhecem, alguns preferem não se aprofundar, outros não estão dispostos a abrir mão do próprio caminho para traçar o que leva ao Céu.

Diante disso, os cidadãos do céu são aqueles que sabem que o Reino está próximo – não próximo cronologicamente falando, mas geograficamente, afinal, graças à Graça o Rei já vive entre nós, mesmo que não possamos vê-lo. Os Herdeiros do Reino são os que já o vivem aqui. São aqueles que já vivem com Cristo, que tiveram suas vidas completamente transformadas por ele. Aqueles que fazem TUDO na companhia de Cristo, assim como Enoque, que foi para o céu ainda em vida, por andar 24 horas por dia com Cristo. Aqueles que fazem questão de que o Reino seja conhecido pelo mundo, como Elias, que também foi para o céu ainda em vida. Aqueles que sofrem, os cansados, os oprimidos, que mesmo passando pelo Vale da Sombra da Morte não temem por saberem que Deus está com eles. Aqueles que abrem mão de quem acham que são para deixar Deus dizer quem são.

As pessoas que estarão no céu são aquelas que amam a si próprias e amam igualmente aos outros, não importa quem os outros sejam. E amam por que foram amadas primeiro por Deus. Aquelas que sabem exatamente quem são por causa da Graça e de Cristo. Aquelas que sabem ser diferentes e manter a própria personalidade e ainda assim enxergar algo que tem em comum com absolutamente qualquer pessoa na Terra. São aqueles que se amam sem abrir mão da humildade. Os que são humildes sem abrir mão da autoridade que lhes foi concedida pelo Espírito Santo. São seguras de si, por que estão seguras em Deus. São felizes, independentemente das circunstâncias. São livres por que escolheram ser servas de Cristo.

Alguns perguntam se "no céu tem pão" (como o meme vindo de uma história tocante contada pelo Renato Aragão inúmeras vezes), sem se dar conta de que estão pedindo por algo que já deveriam ter aqui. Alguns querem esperar isso ou aquilo para ser cidadão do céu, sem se dar conta de que já é ou não é cidadão do céu aqui mesmo, na Terra.
Você é Herdeiro do Céu. Você estar lá no futuro paraíso vai depender da sua consciência a esse respeito.

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