Confissão Pessoal


Poucas vezes escrevi textos pessoais demais aqui.
Antes eu reservava meus desabafos para o Diário de um Extraterrestre – que está largado às traças, coitado. No início importei alguns textos pessoais de lá, mas acho que a última vez que falei sobre meus conflitos internos foi em “Ateu por uma Semana” e mesmo assim foi sobre o passado.
Hoje eu senti a necessidade de confessar algumas coisas que talvez apenas alguns poucos amigos saibam. Tudo o que narrarei aqui aconteceu quase com sincronia ao que narrei em “Ateu por uma Semana”.
No próprio texto supracitado, eu falei sobre a necessidade de afirmação que todos nós passamos na adolescência. Apesar de ter sido por um processo um tanto quanto diferente do da maioria, eu também passei por isso.


Não posso dizer que sofri o pior tipo de “bullying” que existe, mas sempre aconteceram algumas pequenas coisas durante minha infância e pré-adolescência que me tornaram um adolescente com baixa-autoestima (mais do que o normal). Coisas principalmente relacionadas à minha aparência.

Conforme fui ficando mais velho, a necessidade de afirmação de quem eu era aos olhos da sociedade ficava mais forte e eu me via cada vez menos bem visto. Não sei se era só crise da adolescência ou se meus medos tinham fundamento.

Eu era o típico gordinho que quando emagreceu ficou ainda menos apresentável pois emagreceu demais, vivia com livros debaixo do braço ou desenhando nos cantos escutando o pop rock depressivo da moda, bigodinho de trocador por fazer (que não fazia pra não engrossar demais o bigode rs), óculos, desajeitado e sempre falando demais na hora errada.


A verdade é que eu falava demais sobre trivialidades e outras pessoas para esconder a falta de assunto que eu alimentava com outras coisas. Não podia deixar que vissem que, mesmo já mais velho eu ainda era aquela criança desajeitada que corria pra biblioteca na hora da educação física, não só por que não gostava de esportes, mas também por não querer passar vergonha.

Mas acho que sempre tive tino de designer, sempre fui falador, sorridente.
Sempre consegui esconder minha “depressão adolescente” sem fundamento.

Acontece que fiquei um pouco mais velho e nem tudo melhorou.

Claro, quando vi que meu verniz social começou a desmoronar tive que recorrer a outros métodos. Nessa altura eu já tinha maturidade o suficiente para saber que se eu não me impusesse, eu seria um eterno “loser”.
Então me impus. Depois de várias tentativas que me provocam vergonha hoje em dia, finalmente comecei a me impor às pessoas de uma forma menos desajeitada, por assim dizer. O único modo que encontrei de fazer isso foi me fazendo “over”. Não virei outra pessoa, apenas maximizei o que me diziam que eu tinha de melhor.

Foi quando surgiu a gravata vermelha. Talvez eu mesmo tenha sido um dos meus trabalhos mais loucos de identidade visual em design cambiante. Disseram-me que eu não me encaixava em padrões e era o que eu achava também. Black tie nunca fora com a minha cara. Então escolhi a Red tie.

Mas até onde uma gravata vermelha e óculos tamanho GG com aro claro poderiam me definir?
Quem eu era de verdade?
O fato é que eu demorei perceber onde realmente reside a nossa identidade.

Escrevi sobre isso no último texto (Você é um idiota por pensar que pode ser você mesmo) e agora falo do que eu vivi.

Passei uma grande parte da minha vida tentando achar a minha identidade no quanto eu pesava, no que meu cabelo parecia ou em quão cool podia ser minha gravata e meus óculos.
Busquei identidade religiosa, racial, filosófica. Busquei amigos que parecessem legais para que eu também fosse considerado legal.
Mas não importava o quanto eu tentasse achar algo para que eu ficasse bem comigo mesmo, nada adiantava. Tentei ser revoltado com a vida, tentei ser cool, tentei parecer inteligente, tentei parecer esperto, tentei me adequar aos padrões de beleza, tentei criar minha própria história marcante e escrever livros legais. Tentei a todo custo fazer com que todos enxergassem o quanto eu sou bom em fazer várias coisas.
Mas só encontrei a mim mesmo quando reconheci que realmente auto ajuda não funciona (e quando falo de auto ajuda, inclui inclusive os métodos de autenticidade que as pessoas procuram em tribos urbanas e religiões e filosofias existencialistas).

Depois de todos os meus questionamentos, finalmente me encontrei na verdade de que eu sou um pecador, que diz que “é rico e abastado, mas na verdade é miserável, pobre, cego e nu”, que faz parte do grupo em que “todos pecaram e carecem da graça de Deus”.

Parece paradoxal dizer que eu só me senti bem comigo mesmo quando finalmente reconheci que eu nada sou sem Deus. Mas foi a sensação mais libertadora de todas.
Veja bem, vivemos num sistema de escravidão ideológica que te obriga a tentar ser você mesmo. Se os erros teológicos do teocentrismo medieval limitavam várias coisas na humanidade e a privava de várias verdades, o período moderno culminou com uma pós-modernidade que nos obriga a tentar ser nós mesmos, e quanto mais tentamos, menos conseguimos.

Durante o tempo inteiro temos que provar algo para a sociedade, e mesmo quem diz que não precisa provar nada, acaba tendo que provar que não precisa provar!

O mundo bombardeia as pessoas com apelos para tirarem os “rótulos” e criam novos rótulos que parecem mais adequados. A juventude hoje é um caos de identidade.
Não só hoje, sempre foi.

Depois que conheci o Jesus de verdade, aquele que está lá na Bíblia, livre de doutrinas denominacionais e cultura herdada das instituições religiosas e tradições canônicas, descobri que a liberdade se encontra unicamente no reconhecimento de Deus como Pai, Criador, Mantenedor e Salvador.

Quando a gente guarda a nossa identidade em quem ELE diz que somos, é libertador. A gente não precisa mais provar REALMENTE nada pra ninguém, pois Cristo já provou que valemos o sangue dEle. Não importa o que você tenha feito, qual a religião que você escolher antes de Cristo, não importa com quantas ou quais pessoas você fez sexo, ou quantas pessoas você matou. Que se dane a sua cor, o seu estilo, sua opção sexual, sua nacionalidade e sua cultura.

Quando sua identidade está segura em Cristo, nada disso importa, você se sente pleno em si mesmo por que não tem sobre si o peso de tentar fugir das coisas que o sistema te impõe.

Eu estou dizendo que essa é a melhor coisa do mundo por que já experimentei. E toda vez que me afasto de Cristo, todas aquelas dúvidas voltam, por que tenho que voltar a me segurar apenas no que faço e no que pareço, pois infelizmente, você pode até dizer que a sociedade é preconceituosa ao te julgar pelo que você parece, mas a sua aparência e – em segunda instância – as suas atitudes  são tudo o que a sociedade tem pra te enxergar.

Eu mudei muitas coisas no meu jeito de ser desde que comecei a deixar que Deus defina quem eu sou. Mas não, não perdi minha identidade, no fim das contas eu não preciso deixar meus óculos de aro claro, nem minha gravata vermelha. Eles ainda refletem minha personalidade, mas não é nisso que a minha IDENTIDADE está segura.


Eu sei quem eu sou. Fui criado, projetado, perdido, salvo e resgatado. E não importa o que digam ou falem, sou filho, amado, servo e herdeiro do Rei do Universo. Ninguém tem mais autoridade para me acusar ou me julgar pelo que fiz, meus acertos estão atribuídos a Ele e os meus erros ele também pegou pra si. Não preciso da ciência me definindo pelas minhas moléculas, nem da sociedade me definindo pelas minhas escolhas. 

Há só uma pergunta, apenas duas respostas possíveis. A que eu escolher me definirá.

Minha respiração leva a assinatura de um Criador que abriu mão de sua divindade pra me salvar.
É o incrível, incômodo, subversivo e reconfortante paradoxo do ser humano de verdade, sem pretensão e sem masoquismo: Sou pecador, sou miserável, mas fui feito Herdeiro de todos os tronos.

Comentários

  1. Muito bom ler seu texto, Jôn! Me identifiquei muito com ele. A gente tenta buscar uma personalidade inerente a nossa natureza, mas a única coisa natural na nossa personalidade é que somos pecadores, as demais coisas, são por si só, externas, fúteis e volúveis.

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  2. Obrigado por lembrar e me marcar. Me identifiquei com várias partes. Se soubéssemos nessa época que não éramos tão sozinhos assim! O mundo parece que vai desabar na nossa cabeça, mas milhões de pessoas tem a mesma impressão em simultâneo... As vezes até os mesmos motivos (de modo geral).
    Não vou dizer que entrei nesse caminho de dúvidas tarde demais, porque a verdade é que estou nele por mais tempo do que deveria, mas desde cedo faço parte.
    Tento me apegar as verdades dos outros, mas não tem sido suficiente. Não que tuas palavras não ajudem, mas acho que sabe do que tô falando...
    Ore por mim, que Deus diminua esse ego manipulador.

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  3. Sabe, lembrei das minhas aulas de História da Arquitetura, quando alguns artistas falavam q as pessoas iam para a cidade grande para serem anonimas, o prazer de ser mais um, de ver q suas "anomalias", suas diferenças poderiam passar despercebidas. Afinal no fim somos o q somos não pelas nossas peculiaridades (eu cheiro coberta pra dormir, mas isso não define o q eu sou): o q nos define são nossas escolhas. Escolher ser anonimo, escolher ser cool, escolher ser loser... Cada um tem direito a uma escolha. E isso sim marca sua identidade. Sendo pecador... sendo herdeiro... sua escolha em entregar sua assinatura à Jesus é uma parte de sua identidade, uma parte importante. E é isso q realmente o define. :)

    Eu te amo, meu negão. Texto otimo, reflete bem acho q a adolescência e um monte de questões perdidas por ae de um monte de gente...

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