Só os Loucos Sabem - A Trajetória da Verdade Incompreendida
“Eles dizem que é impossível encontrar o amor
Sem perder a razão
Mas pra quem tem pensamento forte
O impossível é só questão de opinião”
Já dizia o cara conhecido como Chorão em sua música “Só os loucos sabem”.
Não tenho certeza sobre o que ele realmente acreditava, mas ele disse algo interessante a respeito do amor e da razão nesse trecho supracitado da sua música.
Mas não é do Chorão que eu quero falar hoje. Nem da sua morte.
Quero falar sobre a morte de outro cara para quem as atenções dos cristãos estão voltadas essa semana.
Estamos num tempo onde um processo sutil e lento começou a fazer as pessoas duvidarem novamente na veracidade da história que a cristandade comemora na chamada “Semana Santa”.
E mais uma vez, o mundo olha para os cristãos e diz: “Eles são loucos”.
Mas nós, cristãos, temos realmente como discordar do que eles nos acusam?
Se admitíssemos que nosso Deus é como todos os outros, teríamos que admitir que temos o Deus mais estranho e louco de todas as crenças.
As correntes judaicas que não aceitam Jesus como Messias não conseguem enxergar um libertador divino num homem pregado numa cruz, os mulçumanos não conseguem crer num Deus misericordioso que envia seu Filho pra morrer, algumas religiões não conseguem desvincular Deus dos ecossistemas naturais e encaixá-lo numa descrição estritamente humana. Algumas pessoas sequer admitem a existência de um Deus.
Lembro-me do contexto dos apóstolos no primeiro século.
A cultura Greco-romana predominava. Eles buscavam a sabedoria e a filosofia como base e questionamento da existência. Os seus deuses eram humanos demais para que confiassem neles o mistério da existência. Ao mesmo tempo em que eram imortais e poderosos demais para terem que lidar com a humanidade mais diretamente. Provar do néctar dos deuses e da ambrosia era apenas para os semi-deuses preferidos.
A ideia de um Deus ainda mais poderoso que os olimpianos que descia do seu trono e se alimentava de comida comum, e mais do que isso, abria mão de sua imortalidade era loucura demais para ser aceita.
Os judeus esperavam um Messias que os libertasse do domínio político e cultural dos romanos. Como crer que o Deus deles tinha vindo e se deixado morrer da forma mais vergonhosa possível para um judeu? Como crer num cara meio doido que andava pra lá e pra cá e pregava o “oferecer a outra face”?
Séculos e mais séculos se passaram e o Deus crucificado e ressurreto ainda parece loucura. Talvez ainda mais.
Como acreditar numa verdade absoluta no século da tolerância e continuar sendo tolerante sem aceitar outras crenças como verdadeiras? Como permanecer crendo em um Deus supremo que se conteve em carne, morreu, ressuscitou e voltará numa era onde o prazer é mais importante do que o saber e o saber só valoriza o que se vê e o que se pode experimentar?
Paulo disse em seu tempo que “os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” (1 Coríntios 1:22-25)
Hoje a coisa não mudou muito.
Hoje as religiões pedem conforto e paz, os evangélicos pedem milagres e prosperidade, a maioria busca a ciência, o conhecimento e a razão sem admitir a transcendência, e quem a admite busca transcendência para si mesmo.
Enquanto nós, cristãos, buscamos ao Deus forte que se fez fraco, crucificado, morto e ressurreto. Buscamos o Deus que oferece uma recompensa futura, e não presente. Um Deus que oferece satisfação ao invés de prazeres e cuja mensagem é totalmente contrária a qualquer outra mensagem que seja ligeiramente diferente.
Esse Deus parece herético para os religiosos e parece loucura, insensatez e ridículo demais para os que se fiam na sabedoria humana.
Mas é então que eu entro, leio epístolas de Paulo, reassisto aquele belo filme do Walter Salles, “Abril Despedaçado” e repito sua paráfrase do mito da Caverna de Platão: “Em terra de cego, quem tem olhos é louco” e digo ainda mais:
Cara, somos poucos. Mesmo em meio à multidão dos que se dizem ser, somos poucos.
Poucos e loucos.
E só os loucos sabem. Só os loucos acreditam num Deus homem. Só os loucos que se deixam achar na loucura entendem a certeza da fé e a certeza da vida. Só os loucos fazem questão de repetir tantas vezes as suas certezas. Só os loucos entendem que na morte de um, há vida para todos, mesmo os que morreram. Aliás, só os loucos sabem que para aquele Louco divino, a morte era só um sono. Só os loucos sabem que mesmo estando morto, há uma chance de que o Chorão viva novamente. Não sei se ele sabia disso. Mas os loucos sabem.
“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”.
-Agradecimento ao pastor Breno Anthony pela ideia.
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