Os Dois Gumes da Tragédia


A tragédia é uma espada que atravessa a humanidade inteira e possui dois gumes.

Do Rio Doce, fonte de abastecimento pra milhares de pessoas, declarado morto, até todos os mortos em Paris, passando por chacinas no Ceará, dentre outras coisas, a tragédia, principalmente quando é seguida de várias em larga escala num curto período de tempo, parece mover algo dentro das pessoas.
Todos aqueles que possuem um mínimo de empatia são atravessados por essa espada de forma incômoda ou dolorosa e vários sentimentos do mais profundo da nossa humanidade são remexidos, despertados, alguns que nem sabíamos que estavam lá.
Sentimentos de empatia, revolta, dúvidas, questões.

Afinal, a vida é assim tão frágil que pode acabar em pouquíssimos segundos?
A própria natureza humana é assim tão frágil que pode se tornar mais monstruosa e egoísta do que pensamos?
Ou não pensamos muito nisso?
Como DEUS se porta diante da tragédia? Como nós devemos nos portar diante dela?

A tragédia tem várias facetas.
É uma anomalia. Nunca estamos preparados pra lidar com ela, nunca ficamos tranquilos depois que ela nos atinge de alguma forma.
É também uma afronta. Uma afronta à nossa zona de conforto, uma afronta àquela parte da nossa natureza que ainda se lembra que fomos criados pra viver e não pra morrer.
Mais do que isso, a tragédia é uma lembrança.
Uma lembrança de duas coisas essenciais:

1 - Só somos quem somos por que Deus fez de nós seu Reino e nos criou como humanidade, como povo, como uma raça unida, mesmo em suas diferenças. Toda vez que essa unidade se divide em guerras, atentados terroristas, acidentes químicos, é algo errado que está acontecendo. Uma lembrança de que a Aliança de Deus com a humanidade está dividida, uma lembrança que a humanidade é doente.
Deus não nos criou pra sermos uniformes, ele queria que fôssemos diversos, espalhados pela Terra, queria que povoássemos a Terra mesmo antes do pecado. Mas, embora Ele não tenha sido pego de surpresa, não estava em seus desígnios que as diferenças incluíssem pessoas que negariam sua aliança com a humanidade estabelecida na Criação, pessoas que negariam mesmo a sua existência e recusariam seu amor. Não estava em sua lista de desejos que essa diversidade fosse motivo para que as diferenças ideológicas provocassem atentados terroristas ou que as diferenças sociais provocassem acidentes ambientais que provocassem a morte da Criação.

Ele nos deixou para cuidar da Terra como ELE cuida de nós, com amor e responsabilidade e justiça.
Mas quando Jesus vem pra restabelecer a esperança e a aliança, ele nos lembra de outra coisa:
Enquanto ele não volta pra fazer o mundo unido de novo, nós devemos ajudar o próximo com o que estiver ao nosso alcance (e talvez andar a milha que parece estar fora dele) e orar pelo que está fora do nosso controle.
Por isso, sim, eu oro por Paris e por Minas (por Minas dá pra fazer algo a respeito e você pode descobrir como aqui).

Mas há algo a respeito do Evangelho que nos incomoda e que nem sempre a Espada da tragédia alcança em nosso coração.
Não devemos orar só pelas vítimas, mas pelos criminosos - sejam eles os que puxam o gatilho ou os que se sentam atrás de mesas de escritório enquanto sua sujeira vaza entre as rachaduras da sua irresponsabilidade.

E isso é o que incomoda na mensagem de Cristo. Para que voltemos a ser a humanidade unida original, para que sejamos a sociedade perfeita, não basta orarmos e ajudarmos os sofredores, oprimidos e vitimados - e eu estou descartando aqui nossa latente e desesperadora frieza que às vezes manifestamos diante da tragédia. Não basta ajudar o necessitado. Temos que orar e amar também os que nos provocam asco, nojo, horror, revolta e muitas vezes ódio, pois eles são responsáveis pelo sofrimento de milhares.
Eles fazem parte do pacote pelo qual Cristo morreu. Então sim, os terroristas islâmicos devem ser incluídos em suas orações. O que seria se Eles não se deparassem com o Evangelho de graça e amor de Cristo? Não seriam eles transformados pelo Deus que você julga o "Deus do Impossível"? Não evitaria que eles cometessem novos crimes?

2 - O Reino está próximo de nós aqui e agora, mas ele também está se aproximando em termos escatológicos e temporais. Nós somos Reino quando nos unimos em prol dos outros, mas nós também estamos caminhando em direção ao Reino quando nos lembramos que a tragédia é uma anomalia, algo que só é permitido por Deus por que estamos num mundo confuso e cheio de pecado, onde a lógica é complexa e funciona de forma muito diferente do que nossas estreitas percepções conseguem captar.
Mas o ideal nunca será alcançado por simples campanhas sociais e bandeiras sócio-políticas. Essas iniciativas seculares são louváveis, mas são fracas demais para sobrepujar uma natureza humana naturalmente pecaminosa e uma natureza revolta, cansada dos nossos excessos e irresponsabilidades. Apenas um movimento pode resolver o problema do sofrimento: A intervenção política e espiritual do Único que tem poder pra reiniciar tudo.

E eu diria que, pelo que eu conheço da Bíblia, Ele está perto. 
A maior intervenção política do mundo vai vir mais cedo do que imaginamos.
A espada da tragédia atravessou o peito da humanidade e a está torturando até a morte.
Estamos no clímax da existência humana, no ponto de twist do roteiro do Grande Conflito Cósmico.
E não importa se você crê ou não.

Jesus está voltando.
E isso é um alerta a todo aquele que está olhando para o lado errado e também uma palavra de ânimo e conforto a todo aquele que não aguenta mais ser torturado pela tragédia.
Ore pela França, ore por Minas Gerais, Governador Valadares, Mariana.
Ore também pelos fundamentalistas, terroristas, assassinos, criminosos, executivos irresponsáveis, governantes corruptos, empresários que lavam suas mãos de desastres ecológicos.
Ore por você mesmo e pelas pequenas tragédias e assassinatos morais que você tem cometido por toda a sua vida.
Ore para que Deus transforme você, transforme a eles, conforte o mundo e recomece tudo logo.
Ore para que a Nova Terra esteja mais perto do que esta em que estamos.

Você vai descobrir que os dois gumes da tragédia podem te provocar dor, mas não vão tirar de você a Vida. Pelo menos não a Vida Eterna.

Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.
Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido.
Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: "Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus.
Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou".
Aquele que estava assentado no trono disse: "Estou fazendo novas todas as coisas! " E acrescentou: "Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e dignas de confiança".
Apocalipse 21:1-5

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