O Silêncio no Dia do Rock

Para ler Ouvindo: Impossível Dizer (Alessandra Samadello), The Houseplant Song (Audio Adrenaline), Why Should the Devil Have All the Good Music? (Larry Norman)

É costume do blog postar um texto especial todo ano no dia do Rock. Se você olhar ali do lado, nas "gavetas", vai ver um tag só para esses textos.
Ano passado e este ano foram exceções por motivos diferentes. Ano passado eu não tive tempo nem criatividade. Este ano eu resolvi postar no dia seguinte propositalmente.
E não há muito segredo em relação ao motivo.

Dentre os leitores assíduos do blog (cuja maioria está no meu círculo de amizades) tem gente que é cristã e gosta de rock. Outros são cristãos e não gostam de rock. E uma parcela surpreendente desses leitores não é cristã, mas gosta muito de rock.
Se você já leu pelo menos um texto, sabe que tento falar a língua desses três públicos, e ainda prevejo quem mais pode vir aqui e ler alguma coisa.

A grande maioria desses leitores não se encaixa nas descrições que se seguirão, mas é um assunto sobre o qual não posso deixar de falar.

Não sei por que ainda me surpreendo com a incoerência da humanidade, com a maneira arbitrária com a qual os seres humanos - incluindo a mim - julgam uns aos outros como se tivessem algum poder ou mesmo condições justas para fazer isso. O que me surpreende é perceber que muitas pessoas são incoerentes e julgam umas às outras sem perceber que estão fazendo isso.

Dentre os que não são cristãos e gostam de rock existe uma parcela maior do que se espera de pessoas que, em defesa de um tal "estilo de vida", se tornaram alguns dos maiores conservadores intolerantes que conheci na vida. Estes desconhecem as origens do próprio "estilo" e agem como se o rock fosse algo extremamente distante da música gospel americana ou - dependendo do subgênero do rock - mesmo da música sacra erudita.
E, por acharem que a religião é um mal para a sociedade e para a pseudo-liberdade deles, agem de forma intolerante e defendem seus "princípios" de forma tão cega e "religiosa" que apedrejam qualquer coisa que possa fazer alusão positiva ao cristianismo e também qualquer estilo musical (mesmo dentro do próprio rock) que não consideram "puro". Consideram pouco inteligente qualquer um que não goste do que gostam, consideram "alienado" qualquer um que siga uma religião, como se as pessoas não tivessem capacidade de pensar por si mesmas.

Dentre os que são cristãos e gostam de rock existe a parcela que, por discordar dos seus irmãos mais conservadores, mete os pés pelas mãos e passa por cima de princípios que são essenciais para o cristianismo. O princípio de não escandalizar, que na mesma medida que é distorcido por uns para defender seu farisaísmo, é completamente pisado por outros para defender seu jeito preguiçoso de empurrar o cristianismo com a barriga.
Para justificar seus próprios interesses e gostos procuram diversas desculpas e argumentos e, o que é pior, ofendem aqueles que, por algum motivo, discordam deles e são mais tradicionalistas. Não percebem que nem todo conservador é fariseu, que nem todo tradicionalista julga. Afirmam que essas pessoas não foram libertas por Jesus, como se tivessem como afirmar isso com certeza absoluta. Apontam o dedo e dizem: "Fariseus! Julgadores!" sem se dar conta de que estão fazendo exatamente o que criticam neles.

Dentre os que são cristãos e não gostam de rock, existe uma parcela assustadora de pessoas que, usando textos bíblicos ou de autores cristãos de respeito fora de contexto e com interpretações convenientes e pouco confiáveis e unem esses textos a pesquisas científicas duvidosas ou mal interpretadas para acusar de "mundanismo" qualquer um que faça um estilo de música que fuja do que eles culturalmente consideram correto e sacro.
Assim como os fãs de rock que não gostam do cristianismo, eles não percebem que as únicas linhas que separam diversas canções dos seus hinários de uma música heavy metal são as cordas de uma guitarra. Sem conhecimento nenhum de causa, acham que qualquer música rotulada de rock é só barulho e balbúrdia, e pouco conhecem sobre como é um dos estilos musicais mais complexos e bem trabalhados que existem (dependendo do subgênero que estamos falando).
Sem conhecimento de causa, acham que cristãos que fazem rock surgiram "nos dias de hoje", acham que o rock surgiu de cultos satanistas e conferem ao Diabo um poder criador que ele não tem.
Caem até no erro de citar cantores que consideram diabólicos para defender seu ponto de vista.
E pior: ao fazerem isso julgam sem perceber e de forma arbitrária e pecaminosa a intenção de qualquer pessoa que faça um estilo musical diferente do que consideram adequado.
Não estou tratando aqui sobre ser correto ou não fazer/ouvir/tocar rock.  Estou falando sobre o que as pessoas dizem e fazem.
Dizem que são estilos usados pelo Inimigo para fazer as pessoas perderem a racionalidade e o foco. Dizem que é uma adoração inadequada. Mas como podem saber?
Se eles concordam que não podem julgar o que há no coração da pessoa que faz música, como podem dizer que Deus não aceita a adoração delas? Caem no erro teológico de estufar o peito e dizer: "Pelos seus frutos os conhecereis", com a intenção de usar base bíblica para seus julgamento,
Alguns dizem que há "o tempo da ignorância" (usando mais uma vez de texto fora de contexto), para dizer que a pessoa, quando entender que o que está fazendo é errado vai consertar. Mas e os que não consertam? Posso mesmo afirmar que o que elas estão fazendo é serem usadas pelo Inimigo? Se ela for realmente sincera, como posso chegar à conclusão de que Satanás está usando os seus dons e talentos?

E nenhum desses grupos não percebem o perigo e o erro grotesco que é julgar o coração, a intenção e a pureza da adoração de alguém. Adoração não começa com a forma que as pessoas usam seus dons. Ela termina com isso. Adoração começa com a decisão e o coração de alguém de VIVER para Deus e não temos como julgar essa decisão. Mesmo se a pessoa estiver errando descaradamente em pontos teológicos doutrinários - como descumprir os mandamentos - nosso papel não é dizer que a adoração musical dela não tem validade, mas admoestá-la sobre seu erro específico. Não há utilidade nenhuma para o Evangelho apontar o dedo para as pessoas que erram, e mesmo quando apontamos o dedo para o erro, o dedo deve estar apontando para a Bíblia e suas verdades, nunca para a pessoa.

Há muitas coisas que eu gostaria de dizer, muitos textos e pesquisas que gostaria de mostrar. Mas vou me ater à Bíblia para terminar:

"Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá."
Gálatas 6:7

"Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade."
João 4:23,24

"Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão."
Mateus 7:1-5

"Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração."
1 Samuel 16:7

"Louvai ao SENHOR. Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do seu poder.
Louvai-o pelos seus atos poderosos; louvai-o conforme a excelência da sua grandeza.
Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa.
Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos.
Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes.
Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor. Louvai ao Senhor."
Salmos 150:1-6