Você, Cisne Negro e o Culto à Dor


Com o advento do modernismo, grande parte da humanidade rompeu com o ideal de “final feliz” e de “tudo terminará bem”. O pós-modernismo trouxe ainda outro fator adicional (ou seria subtrativo?): A relativização desses conceitos, possibilitando que eles fossem adaptados às diversas cosmovisões.
A maneira como as pessoas lidam com isso não é nova. Se parece muito com registros de outras civilizações bem mais antigas do que os conceitos de modernismo e pós-modernismo. Aliás, uma das características dessa sociedade, a romantização da dor, também é mais antiga. Assim como o fascínio pelo terror e pela violência, o hedonismo, a busca pelo prazer, e até mesmo o niilismo. Todos são conceitos bem mais antigos que os nomes deles inclusive.
Mas qual é o problema então?
 Bem... Em primeiro lugar, não é o quão antigas são as coisas que determina o quanto elas são boas ou ruins. Depois, a pós-modernidade parece ter criado um paradoxo irreversível: potencializou todas essas linhas de pensamento e comportamento e as elevou a níveis sensoriais nunca antes experimentados pela humanidade, porém de uma forma tão sutil, que muitas pessoas não conseguem encaixar o que pensam ou o que sentem em nada teórico.
E nem procuram fazê-lo, afinal, a pós-modernidade também as ensinou que classificações e “convenções” geralmente são nocivos e tiram a nossa liberdade.
O resultado é que temos uma sociedade sádica e hipócrita, as vezes maquiavélica, niilista, hedonista, dentre outros “istas”, que se você perguntar se é uma dessas coisas negará veementemente e com argumentos convincentes e eloquentes, mas fracos e rasos.

As pessoas não enxergam o quão sintomático é relativizar tudo para adequar a realidade a alguns comportamentos, mesmo que alguns outros princípios básicos que estão no pensamento comum sejam ainda aceitáveis nessa nossa realidade fluida (como o respeito  - limitado - pela vida, por exemplo).
Assim você tem um grupo de pessoas que se horroriza com a agressão social, física ou psicológica sofrida por uma mulher, um homossexual ou uma criança, mas sorri ante a tortura de um pedófilo e se delicia pagando para assistir filmes gore e “torture porns” em 3D no cinema.
Pessoas que defendem os direitos humanos e protestam pelo fim da opressão, mas adoram acusar de maniqueísmo um conceito bem definido para o que é o bem e o mal. Pessoas que se ofendem com autoflagelação religiosa e a acusam de alienação, mas se submetem à dor em nome da liberdade de fazer o que quiser com o próprio corpo – tatuagens, piercings ou sadomasoquismo.
Pessoas que defendem a solidariedade, mas não têm escrúpulos ao dizer uma frase ofensiva ou terminar friamente um relacionamento com uma alguém que as ama. Gente que protesta nas ruas contra a violência, mas se diverte assistindo “videocassetadas”. Gente que defende a liberdade de expressão e os direitos iguais, mas zomba sarcasticamente de pessoas que tem uma “cultura” e “educação” inferiores.

Gente que adora apontar a hipocrisia dos religiosos, mas se entrega à “liberdade” hipócrita da pós-modernidade. Gente que, por mais que defenda uma sociedade tolerante, se ajoelha diante da dor, seja a própria dor ou a alheia. Afinal, a dor é aceitável se a pessoa a escolheu certo? Ninguém gosta de abrir mão da própria dor, por mais que queira ser feliz. As pessoas tem medo de perder a identidade se entregarem a própria dor, se esquecerem do próprio sofrimento, se alimentarem novas esperanças e expectativas.
O racionalismo, assim como o relativismo, deixaram-nos com o romantismo e com as ideologias, mas arrancaram de nós o amor. O amor que é absoluto, a essência de tudo o que é bom e possibilita a existência da verdadeira esperança, da verdadeira liberdade e da verdadeira verdade.

Sem saber que são escravos do próprio medo e da própria dor, as pessoas apregoam a liberdade e a paz, numa dolorosa hipocrisia velada e uma adoração insana de tudo o que lhes faz sofrer. Assim como o alter ego de Nina, personagem interpretada pela Natalie Portman no cultuado “Cisne Negro” do Darren Aronofsky, as pessoas procuram a perfeição nas sensações, no “abrir mão”, na quebra dos limites, sem saber que quando chegarem ao ápice da sua performance estarão caminhando para uma morte perigosamente enganadora e frustrante.
O mundo pós-moderno tem esse dom de te fazer acreditar que você é feliz e TEM que ser feliz, realizar seus desejos, não importa o custo.

Mas a verdadeira felicidade e a verdadeira liberdade estão em abrir mão de si mesmo, abrir mão das suas dores e experiências para viver o que é completamente novo. Até por que, se apegar a essas filosofias é uma afronta à maior demonstração de amor, solidariedade e liberdade de todos os tempos.

“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.”


Isaías 53:4-6

Lembre-se: sua dor, seus pecados, sua declaração de independência de Deus não são mais seus. Jesus as tomou para si na cruz.

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